terça-feira, 27 de maio de 2008

MENINOS DA FRONTEIRA

Documentos inéditos da ditadura revelam os bastidores do dia em que João Guimarães Rosa — um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos — foi um dos protagonistas de uma reunião do Conselho de Segurança Nacional. Nesse encontro com Rosa, em 11 de março de 1966, o conselho reuniu os principais integrantes do governo militar para discutir questões de fronteira entre o Brasil e o Paraguai.
O governo reuniu seus principais integrantes nessa reunião para deliberar sobre o tom de uma nota que divulgaria para tentar conter os pleitos paraguaios em relação a parte do território brasileiro.
A principal divergência dizia respeito à reivindicação feita pelo Paraguai de áreas no Salto de Sete Quedas, onde o Brasil havia iniciado anos antes levantamentos para um grande aproveitamento hidrelétrico. Mais tarde, esse processo acabaria levando à construção da usina de Itaipu, justamente em parceria com o Paraguai.
Em sua intervenção, Guimarães fornece amplos detalhes técnicos sobre o caso. De quebra, relata a sua clara descrença na possibilidade de concretização de um acordo razoável com o governo paraguaio. Na época, o país vizinho era governado pelo ditador Alfredo Stroessner.
Agora, com a eleição de Fernando Lugo como presidente paraguaio, voltam à cena as velhas questões de rediscussão das fronteiras e até mesmo o pedido de renegociação dos termos do Tratado de Itaipu, de 1973. Desta vez, porém, o governo terá de se virar para resolver o problema sem a ajuda de Guimarães, morto em 1967.
E levando para o campo simbólico, não é de se estranhar Guimarães Rosa auxiliar a ditadura em questões diplomáticas, afinal, hoje vemos na Capital Secreta do Mundo (onde não tem usina nem nada) os intelectuais do PDT se coligarem com os Democratas sem nenhum remorso. E viva a memória de Guimarães Rosa. Só que os ossos de Brizola devem estar azuis de tanta raiva.