"Quando não somos capazes de entender alguma coisa, procuramos desvalorizá-las com críticas. Um meio ideal de facilitar nossa tarefa", Freud (1909).
Gostaria de escrever sobre outros assuntos como literatura,
cinema, psicanálise... Contudo, diante da situação de emergência que se
encontra o país, nada mais justo do que parar um dia de trabalho para refletir
sobre o que permitimos , por procuração, fazer com a arte, educação e tantas
violações em nossos direitos conquistados com sangue, suor e lágrimas.
Mas, prometo não radicalizar, afinal, ao contrário do que
anuncia o primeiro parágrafo, tentarei descrever de tudo um pouco, antes do nada.
Antes do apoio incondicional à greve geral desta sexta-feira (28).
A cegueira da visão. É a frase que define este momento. Não
foi uma cruzada de esquerda nem pela direita. O soco foi um direto certeiro no
estômago do trabalhador, que, nem sentiu. Calma que o trauma vem depois.
Os sintomas com velhos conflitos – disfarçados de novos –
apontam para um caminho obscuro e preocupante. Na véspera da Semana do
Psicanalista o que comemorar? Temos muita coisa por fazer... Claro, após a greve.
Antes, vamos celebrar, não a estupidez humana, como diria Renato Russo, mas a
cultura. Em tempos de crise, sair um pouco da realidade implacável e mergulhar
numa narrativa bem elaborada é, nesses tempos irritantes, um alívio. Então
vamos, aqui e agora, reverenciar a literatura e a sétima arte. Sem esquecer,
jamais, os golpes (um atrás do outro) que tomamos dos poderosos.
Na próxima quinta (04/05) e sexta (05/05), a Associação
Psicanalítica do Estado do Espírito Santo (Apees) discutirá o conto "O
Búfalo", de Clarice Lispector, e o filme "Fragmentado", que
estava, recentemente, em cartaz nos cinemas. Por falar em múltiplas
personalidades... Só me vem à cabeça os 117 dispositivos da Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT) alterados com o propósito de extinguir direitos dos
trabalhadores. É para deixar qualquer um fragmentado mesmo. Na concepção de
"quebrado".
Sobre "O Búfalo", o que posso adiantar (para não
estragar o encontro) é que o amor entre os desiguais causa desconforto ao
outro. O mesmo vale para os analistas de "pós-verdades" (termo que
pretendo desenvolver em outra oportunidade). Pensar diferente é ofensa. Com
pena capital de decapitação perfilar
facebookana.
Enfim. Com a (in)certeza líquida de que dias piores virão...
Apesar de tudo, amanhã há de ser outro dia. Unidos somos mais fortes. Diante de
protestos, projetos, trabalho ou greve geral. E também para decidir que
história vamos contar, escrever ou gravar para a posteridade. Essa? Eu prefiro
deletar, mas, o HD da realidade não permite.
www.roneyamoraes.blogspot.com.br