quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Da redação...


Na clínica (ou fora dela), o não dito, as bobagens e até o silêncio é gritante e importante. Em análise, quem constrói a história é o analisando. O analista se encarrega da pontuação. RM.

Se, para a psicanalista francesa Catherine Millot, a escrita foi uma continuação do seu processo de análise, no meu caso, o avesso é impresso. A linguagem estruturada no inconsciente é o desdobramento de tantas linhas escritas ao longo de duas décadas ou mais.

Somos e escrevemos o que a literatura (ficcional ou não) nos interessa naquele momento. Da dureza crua na ordem direta do jornalismo ao humor ácido e desprovido de censura das críticas políticas. Da crônica ao artigo de opinião, sem nenhuma dúvida, as palavras transbordam vivências e experiências de acordo com as vicissitudes temáticas e percalços das experiências passadas.

Como não dizer sobre psicanálise se é no momento minha principal fonte de abastecimento teórico. Podem dizer que os textos são para um público específico. E são. Para os que interessam pela leitura. Não são para os que não lêem. Até por motivo prático. Gosto de dizer o não dito. O que não é exposto interessa tanto ou mais do que o óbvio ululante de Nelson Rodrigues.

Tem gente que faz das palavras o que quer. Brinca com o texto de ponta a ponto. Nossa intenção nem chega perto. Aliás, nem é intenção ou instinto. A escrita, de minha parte, é pulsional.  Escrevo por sublimação.

Meus colegas escrevem por outros motivos os quais, singulares, revelam talentos, muitas vezes adormecidos ou reprimidos pelo contexto social, oportunidade ou pelo próprio inconsciente. Outros, com seus talentos particulares, não se intimidam com as forças internas que resultam em inibição.

A contemplação, principalmente, de projetos literários e teatrais, pela Lei Rubem Braga, de Fernando Gomes, Marcelo Grillo, Paula Garruth, Claudia Sabadini, Lucimar Costa e Luiz Carlos Cardoso, sem falar nos lançamentos das obras “Monge Guerreiro”, do jornalista Rômulo Felipe, e também da antologia "Esse Ofício das Letras", uma coletânea das melhores crônicas e contos publicados na Revista Cachoeiro Cult, no Mourad’s, com participações de Simone Lacerda, Fábio Brito, entre outros, são testemunhas das colocações neste texto apócrifo. Estas publicações fazem da semana na capital secreta fria e chuvosa o melhor lugar para ler uns livros.

Preparando seminário sobre a constituição do sujeito na psicanálise me dei conta que a formação do escritor, leitor ou analista passa pela angústia da espera e alegria em ter seu trabalho publicado, lido, reconhecido e recomendado. Essas são minhas pontuações. Fim da análise.