“Um psicanalista sabe fazer com aquilo que escuta e, se especializado, fará o necessário para um encaminhamento mais eficaz”.
A Política do Ministério da Saúde para a Atenção Integral
aos Usuários de Álcool e outras Drogas preconiza que a assistência a esses
usuários deve ser oferecida em todos os níveis de atenção, privilegiando os
cuidados em dispositivos como os Centros de Atenção Psicossocial para Álcool e
Drogas (CAPS ad). A demanda é enorme, mas não devem, em hipótese alguma um
dispositivo público fechar as portas ou deixar um usuário em fila de espera.
Por meio da política de Atenção Integral a Usuários de
Álcool e outras Drogas deu-se ao dependente químico o status de cidadão. O
primeiro passo para uma abordagem humana e sem preconceitos está na garantia
dos seus direitos básicos e fundamentais para a vida, como saúde, educação e
assistência social. Antes, o usuário, sempre visto como um criminoso “sem
vergonha”, sempre esteve privado pelas medidas coercitivas e moralistas de
tratamento.
Enquanto os outros discursos estão voltados para o
fenômeno do uso da droga e seu controle, a Psicanálise é um dispositivo avesso
a este discurso e tem como direção de tratamento fazer falar este sujeito em
sua singularidade radical, ou seja, dar lugar ao seu sintoma. Na experiência
analítica é possível que se pergunte menos pela toxicomania do que pela droga
como sintoma e sua relação com o sujeito do desejo, o dependente.
No Caps ad, as ações devem partir do pressuposto que
existe um sujeito com voz, capaz de dizer de si mesmo. Não prevalecer a lógica
da cura ou da imposição de um só modelo de tratamento para todos os usuários,
muito menos delimitá-lo. Apesar da falta de recursos, pessoal e etc... O
sistema deve atender todos que procuram o serviço.
Deve ser cedido ao sujeito um lugar de existência
subjetiva, uma condição permanente de escuta e questionamento acerca de como
esse outro se torna ator principal na construção do seu projeto de tratamento.
Além disso, a atenção a esses usuários deve ser contemplada pela atuação
integrada dos Programas de Saúde da Família (ou Estratégias de Saúde da Família), Agentes Comunitários de Saúde e
Serviço de Redução de Danos e da Rede Básica de Saúde. O diálogo com grupos de
mútua ajuda e outros dispositivos de auxílio ao tratamento devem ser
priorizados.
É imprescindível ressaltar que tanto o Caps ad quanto o
Serviço de Redução de Danos pertencem ao modelo de assistência psicossocial que
pretende superar o modo asilar (no sentido de manicômio, albergue em que
institucionalizam o sujeito por anos). No entanto, o que se vê é uma falta de
estratégia para encaminhamentos e superlotação no dispositivo, pois não se
desenvolveu o Serviço de Redução de Danos, ao menos no sul do estado.
A descontinuidade é uma característica prevalecente no
tratamento. São poucos os pacientes que permanecem por longo tempo na unidade.
Diversos são os fatores que provocam essa característica. A fragilidade do
vínculo com a instituição possivelmente tenha uma influência direta da relação
que o sujeito estabelece com o seu objeto (droga), ou seja, com o gozo.
Num primeiro contato, parece que a escuta é ineficiente.
Porém, dentro da rotina de desencontros, descontinuidade e um tratamento
fragmentado, existem muitas falas que demandam a escuta e o cuidado para o
campo da análise. Todos que compõem a equipe escutam. Até mesmo aqueles que se
encarregam de tarefas operacionais ou administrativas. O que mudaria é: um
psicanalista sabe fazer com aquilo que escuta e, se especializado, fará o
necessário para um encaminhamento mais eficaz.
Já a atuação psicanalítica em Comunidades Terapêuticas
(CT's) sérias em seu quadro de tratamento é um desafio tanto da rede SUS quanto
das CT's romper com o modelo centrado na doença e não no sujeito. Investir no
social tendo como recurso terapêutico, maior a relação entre os pares, também
se faz necessário neste sistema comunidades que é histórico e com resultados
eficientes no tratamento.
O adicto, com a ajuda da Psicanálise e de todos os
dispositivos, sem distinção, pode entender o problema e lidar com ele da melhor
forma possível. A opção é sem dele, do sujeito. Não há como impor algo que
alguém não quer. Por isso o tratamento voluntário é mais eficaz.