“Não chore. Não se revolte. Compreenda”, Spinoza.
Quando falamos ou escrevemos a palavra “afeto” logo vem
em mente o nosso conceito formulado pelo senso comum, como o sentimento de
carinho que se tem por alguém ou alguma outra coisa. Não que esteja errado.
Quer dizer isto também, amor. Mas, vejamos o que os conceitos psicanalíticos e
filosóficos têm a dizer a respeito do afeto. Ao menos, em primeira instância,
para a teoria analítica, é aquele estado emocional que se relaciona com a
formação da pulsão.
Para ser mais claro. Diferente do instinto, que é
direcionado a um objeto específico, como a fome do personagem Chaves que o leva
a um sanduíche de presunto e a sede no deserto a um oásis com água em
abundância, a pulsão, ao contrário do instinto, não tem um objeto específico.
Ela só é conhecida pelos seus representantes: o ideativo e o afeto. Deste
último falaremos agora.
A psicanalista Joviane Moura descreve o afeto como a
expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional.
“Afetos correspondem a processos de descarga, cujas manifestações finais são percebidas como sentimentos. (...) não se pode falar em afeto inconsciente; os afetos são sentidos a nível consciente, embora não possamos determinar a origem do afeto ao sentir suas manifestações”.
Em seu artigo, Introdução ao conceito de pulsão, Moura
diz que o afeto não pertence ao sistema inconsciente, mas ele sofre as
influências dos mecanismos repressores e de defesa. Por isso, ele pode ser
transformado em angústia ou ser suprimido.
Não só o senso comum ou a psicanálise se preocupou no
estudo dos afetos. A filosofia também buscou no afeto uma relação interessante.
Os estudos suas relações inconscientes com nossas respostas conscientes fazem
de Spinoza o grande expoente da ética do afeto.
“Por afeto compreendo as afecções (ação) do corpo, pelas
quais sua potência de agir é aumentada ou diminuída”, Spinoza. Isso quer dizer
que o corpo humano testemunha o aumento de sua potência de agir e de pensar e,
por isso, o afeto de alegria, em contraste, as que diminuem a potência de agir
e de pensar provocando tristeza. Esta passividade do corpo humano são paixões
(do grego pathos, relacionado à patologia). Mas isso é só a título de ligação
entre a filosofia e a psicanálise. Não se preocupem, no fim vai dar tudo certo.
Leiam!
A grande sacada spinozana foi que a própria razão, ao
contrário do que imagina nossa vã filosofia de boteco, é um afeto, ou seja, uma
vontade de criar oportunidades de alegria e, assim, evitar situações que causam
tristeza.
Finalmente... Passeando pelos terrenos “obscuros” da
psicanálise e da filosofia nos damos conta que, realmente, a massa tem razão,
pois a ética de Spinoza é a ética da alegria. Para ele a alegria nos leva ao
amor, que, voltando ao início do texto, para senso comum, o amor é o mais
sublime dos afetos.