“(..) ao que há de mais arcaico e que assume atualidade porque fizeram, fazem sentido em nossa formação permanente. Presença de uma ausência”, Robson Pereira.Um dia que simboliza o elo com o passado em nossa cultura é muito importante. O Dia de Finados serve para homenagear o legado das gerações anteriores inscrito na memória dos vivos. Isso faz parte de quem nós somos.Se a morte é a única coisa absolutamente certa da vida, então, para amenizar a angústia de como será o nosso próprio velório (o único que realmente interessa), a lembrança dos que partiram é o que deve ser herdado pelos outros que ficaram ou virão e transmitido por meio da palavra.Eliane Mendlowicz, em seu estudo sobre “O luto e seus destinos”, publicou que este é um dos maiores desafios ao equilíbrio do psiquismo e que, além disso, dependendo do tipo de perda, ou seja, mortes súbitas, precoces, violentas, perda de um filho, a elaboração pode se tornar assaz complexa, com grandes possibilidades de um fracasso parcial deste trabalho.Para a pesquisadora, diante da morte não há negociação harmoniosa possível: ou ela é plenamente aceita, ou nos cobra um pedaço de nossas vidas. São os nossos mortos-vivos que não nos deixam em paz, ou melhor, somos nós que não os deixamos em paz.“O caminho que estamos trilhando é o do conflito permanente, da necessidade de elaboração constante do aparelho psíquico, da eterna vulnerabilidade do homem diante do imprevisível do destino”, argumenta.A morte sempre tem um efeito para quem fica, porém há o tempo lógico de elaboração da perda. E, com isso, uma coisa acontece: a forma de lidar com a falta torna-se uma coisa suportável. Já uma vida vegetativa, sem perspectivas, sem fala, ou seja, mal vivida, é que pode deixar traumas irreversíveis.
Portanto, vamos celebrar a vida. Dos que agora estão ao nosso lado e também a lembrança viva, por meio das histórias, dos que foram. Porque, a presença de uma ausência está eternizada na palavra.
"Se a boca se cala, falam as pontas dos dedos", Freud.