sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Os olhos falam!



“As pulsões são, no corpo, o eco do fato de que há um dizer”, Jacques Lacan.

Quero falar de uma coisa. Não precisa adivinhar onde ela está? Na garganta. Engasgada e engolida, mas a gente não consegue reprimir a emoção por muito tempo e a voz saiu pelos olhos em forma de lágrimas. De saudade, alegria... Sensação sem nome. Os olhos, as janelas da alma, estavam felizes porque estavam ali, naquele auditório, seus admiradores.

Vou resumir: na quarta (26), no bairro Independência, na Secretaria Municipal de Educação de Cachoeiro, um auditório, um silêncio e várias lágrimas. Entrei mudo e saí calado como se a professora Sônia Luzia Coelho Machado estivesse me ensinado mais uma lição para a vida. E ensinou. Quanta gente, quanta alegria e quanto orgulho eu senti por tê-la como professora no curso de Letras.    

O espaço foi construído formações e demais eventos oferecidos para os profissionais da rede pública municipal. Ele levou o nome da Sônia, que também foi secretária de Educação entre 2005 e 2008, se não me falha a memória.

A atual secretária de Educação, Cristiane Paris, entre outras homenagens do dia, na minha humilde opinião, fechou com maestria sua passagem pela pasta reverenciando uma professora inteligente e politicamente atuante e que deixou saudade. Meus sinceros agradecimentos pelo convite.

O primeiro contato que tive com Sônia Coelho foi em 1996 no curso de Letras (na época Literatura). Lembro, no início da vida acadêmica, das dicas preciosas de leituras, autores e de professores inesquecíveis que até hoje fazem parte da minha vida.

Tinha literatura até no nome da faculdade. Era “Filosofia, Ciências e Letras”. Éramos as ovelhas negras da instituição. As ciências eram exatas, as sociais de esquerda e Letras? Uma incógnita. Poderíamos ser o que quiséssemos. Eu escolhi olhar para esquerda com os ensinamentos da língua. Vai entender... Freud explica, mas após muita leitura de Shakespeare, Flaubert, Goethe e Dostoievski.

Os três anos que passei no curso, antes de partir para outros rumos, possibilitaram-me compreender um pouco sobre análise literária, produção de textos e pesquisa, por isso reconheço que sem esta base talvez não solidificasse a construção da minha vida profissional hoje como psicanalista e escritor.

Nunca fui um aluno fácil. Era terrível, reconheço. Mas, os diferentes marcam a gente e com os professores é a mesma coisa. Na vida acadêmica, tive a surpresa em receber das mãos dela o livro “O Carteiro e o Poeta”, pela participação num projeto de declamação. 

Certa vez escrevi que para quem tinha “Uma Vida em Segredo”, cercado de ignorância e senso comum, deixei de ser um “Grande Mentecapto” (hoje sou um mentecapto menor). Já fui “Carteiro (de e-mails) e o Poeta (das crônicas)”. Viajei o “Mundo de Sofia” e com “A Sedução da Palavra” fiquei um “Homem Nu”, mas, só desta vez, nem “Toda Nudez Será Castigada”.  Licença aos autores Autran Dourado, Fernando Sabino, Antonio Skármeta, Jostein Gaarder, Affonso Romano de Sant'Anna e Nelson Rodrigues. A maioria... Conheci, intimamente, no curso de Letras.

Os professores eram exigentes e Sônia conseguiu me ensinar "Teoria da Literatura" e “Literatura infantil” enquanto eu só pensava em militância na política estudantil. Isso lá nos meados dos anos de 1990. Para minha total e absoluta surpresa. Ela me chama, após uns 10 anos, numa das edições da Bienal Rubem Braga. Achei normal. Fiquei feliz em revê-la, porém não esperava o abraço e as palavras: “me sinto orgulhosa de você”. Escrevo agora contento as lágrimas...

Sônia Luzia Coelho Machado. Inesquecível!

*Este texto é dedicado aos professores e alunos do curso de Letras!