sexta-feira, 28 de abril de 2017

Um pouco de tudo antes do nada




"Quando não somos capazes de entender alguma coisa, procuramos desvalorizá-las com críticas. Um meio ideal de facilitar nossa tarefa", Freud (1909).

Gostaria de escrever sobre outros assuntos como literatura, cinema, psicanálise... Contudo, diante da situação de emergência que se encontra o país, nada mais justo do que parar um dia de trabalho para refletir sobre o que permitimos , por procuração, fazer com a arte, educação e tantas violações em nossos direitos conquistados com sangue, suor e lágrimas.   

Mas, prometo não radicalizar, afinal, ao contrário do que anuncia o primeiro parágrafo, tentarei descrever de tudo um pouco, antes do nada. Antes do apoio incondicional à greve geral desta sexta-feira (28).

A cegueira da visão. É a frase que define este momento. Não foi uma cruzada de esquerda nem pela direita. O soco foi um direto certeiro no estômago do trabalhador, que, nem sentiu. Calma que o trauma vem depois. 

Os sintomas com velhos conflitos – disfarçados de novos – apontam para um caminho obscuro e preocupante. Na véspera da Semana do Psicanalista o que comemorar? Temos muita coisa por fazer... Claro, após a greve. Antes, vamos celebrar, não a estupidez humana, como diria Renato Russo, mas a cultura. Em tempos de crise, sair um pouco da realidade implacável e mergulhar numa narrativa bem elaborada é, nesses tempos irritantes, um alívio. Então vamos, aqui e agora, reverenciar a literatura e a sétima arte. Sem esquecer, jamais, os golpes (um atrás do outro) que tomamos dos poderosos.

Na próxima quinta (04/05) e sexta (05/05), a Associação Psicanalítica do Estado do Espírito Santo (Apees) discutirá o conto "O Búfalo", de Clarice Lispector, e o filme "Fragmentado", que estava, recentemente, em cartaz nos cinemas. Por falar em múltiplas personalidades... Só me vem à cabeça os 117 dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) alterados com o propósito de extinguir direitos dos trabalhadores. É para deixar qualquer um fragmentado mesmo. Na concepção de "quebrado".

Sobre "O Búfalo", o que posso adiantar (para não estragar o encontro) é que o amor entre os desiguais causa desconforto ao outro. O mesmo vale para os analistas de "pós-verdades" (termo que pretendo desenvolver em outra oportunidade). Pensar diferente é ofensa. Com pena capital de decapitação perfilar facebookana.  

Enfim. Com a (in)certeza líquida de que dias piores virão... Apesar de tudo, amanhã há de ser outro dia. Unidos somos mais fortes. Diante de protestos, projetos, trabalho ou greve geral. E também para decidir que história vamos contar, escrever ou gravar para a posteridade. Essa? Eu prefiro deletar, mas, o HD da realidade não permite.


www.roneyamoraes.blogspot.com.br