sexta-feira, 17 de março de 2017

A lógica do agora


Os referenciais morais da época anterior são retirados de cena para dar espaço à lógica do agora, do consumo, do gozo e da artificialidade.

Hoje, em função da nova realidade social, a prática na clínica psicanalítica aponta para um profissional que não tenha o perfil de dono da verdade, pois a necessidade obriga, mais do que nunca, uma postura interrogativa.

É uma época de liquidez, de volatilidade, de incerteza e insegurança. Os referenciais morais da época anterior são retirados de cena para dar espaço à lógica do agora, do consumo, do gozo e da artificialidade.

Quem procura o tratamento psicanalítico apresenta uma tendência para a busca de soluções mais rápidas e, alegando razões econômicas reais, insiste em ter um menor número de sessões semanais, além de uma duração mais curta da análise.

Adicionado ao sucesso dos medicamentos milagrosos, ocorre uma perigosa confusão entre muitos pacientes e psicoterapeutas de outras linhas e métodos teóricos. Alguns agem como se fossem resolver todos os problemas humanos.

Empregos temporários, meia jornada, trabalhos em que as relações de empregado-empregador são constituídas somente pelos dois, se tornam situações fáceis de observar e consideradas legítimas. Nisso, emerge a figura do desempregado crônico.

Desde as ações pioneiras de Sigmund Freud, em relação ao tratamento analítico, é possível observar grandes mudanças na prática da Psicanálise. Por isso, este novo analisando é quem procura atendimentos sociais ou por vias (cheias de dúvidas) pela internet.

A sociedade contemporânea espalha a solidão, o que pode ser comprovado pelas inovações tecnológicas, pois, as últimas novidades de celulares têm vida própria, cara e curta. Cinco mil ‘amigos’ na palma da mão. Ninguém tem mil amigos, realmente, se tem, não conheço. 

Atualmente, o perfil dos pacientes aponta para pessoas que apresentam um sentimento de baixa autoestima, toxicomania e quadros altamente estressados. Isso tudo, em tese, por conta da crise financeira, existencial e da sensação incômoda de injustiça. A maioria tem que rebolar e encolher a barriga porque a vida não é uma calça justa.

Não há ‘like’ no mundo real. Muito menos ferramentas para “editar” a vida, como nas redes sociais. Os erros e acertos fazem parte do que nós somos. Demasiadamente humanos. Lidar com tudo isso é a grande questão.