Os referenciais morais da época anterior são retirados de cena para dar espaço à lógica do agora, do consumo, do gozo e da artificialidade.
Hoje, em função da nova realidade social, a prática na
clínica psicanalítica aponta para um profissional que não tenha o perfil de
dono da verdade, pois a necessidade obriga, mais do que nunca, uma postura
interrogativa.
É uma época de liquidez, de volatilidade, de incerteza e
insegurança. Os referenciais morais da época anterior são retirados de cena
para dar espaço à lógica do agora, do consumo, do gozo e da artificialidade.
Quem procura o tratamento psicanalítico apresenta uma
tendência para a busca de soluções mais rápidas e, alegando razões econômicas
reais, insiste em ter um menor número de sessões semanais, além de uma duração
mais curta da análise.
Adicionado ao sucesso dos medicamentos milagrosos, ocorre
uma perigosa confusão entre muitos pacientes e psicoterapeutas de outras linhas
e métodos teóricos. Alguns agem como se fossem resolver todos os problemas
humanos.
Empregos temporários, meia jornada, trabalhos em que as
relações de empregado-empregador são constituídas somente pelos dois, se tornam
situações fáceis de observar e consideradas legítimas. Nisso, emerge a figura
do desempregado crônico.
Desde as ações pioneiras de Sigmund Freud, em relação ao
tratamento analítico, é possível observar grandes mudanças na prática da
Psicanálise. Por isso, este novo analisando é quem procura atendimentos sociais
ou por vias (cheias de dúvidas) pela internet.
A sociedade contemporânea espalha a solidão, o que pode ser
comprovado pelas inovações tecnológicas, pois, as últimas novidades de
celulares têm vida própria, cara e curta. Cinco mil ‘amigos’ na palma da mão.
Ninguém tem mil amigos, realmente, se tem, não conheço.
Atualmente, o perfil dos pacientes aponta para pessoas que
apresentam um sentimento de baixa autoestima, toxicomania e quadros altamente
estressados. Isso tudo, em tese, por conta da crise financeira, existencial e
da sensação incômoda de injustiça. A maioria tem que rebolar e encolher a
barriga porque a vida não é uma calça justa.
Não há ‘like’ no
mundo real. Muito menos ferramentas para “editar” a vida, como nas redes
sociais. Os erros e acertos fazem parte do que nós somos. Demasiadamente
humanos. Lidar com tudo isso é a grande questão.