quarta-feira, 2 de março de 2011

Ecumenismo baseado no poder


Um estudo diz que o número de católicos vem caindo e o de evangélicos aumentando no país. Mas o que isso tem de importante para a sociedade moderna? Ora, tudo! Toda a nossa civilização ocidental é fundamentada nos preceitos cristãos, e mesmo alguns dizendo que seguir a religião A ou B não interfere na fé, sinto muito e com todo respeito, estão gravemente enganados. As igrejas são locais de propagação da Palavra de Deus e por isso de renovação da fé e de edificação, então é racional pensar que a fé tem uma enorme influência em nosso dia a dia, principalmente nos campos políticos, sociais e culturais.
Um exemplo claro disso está nas recentes discussões sobre o governo municipal de Cachoeiro de Itapemirim, quando um padre (Monsenhor), a pedido de sua consciência, entrou na discussão política local ousando, em artigo publicado nos mais variados jornais da cidade, criticar a atual situação da administração. Segundo ele, foi apenas um “puxão de orelhas”, mas para muitos, e principalmente adversários políticos do prefeito, foi um ato “divino”.
É necessário entendermos que, nesse caso, mesmo sem querer, houve uma correlação entre a fé e a existência humana, mais precisamente política, se entendermos que política se faz toda hora, todos os dias, em casa, na igreja e também, não necessariamente nessa ordem, nos partidos e nos gabinetes.
Então, por se tratar de um diálogo pessoal e opinativo, acredito que não houve intenção do vigário em envolver a igreja nisso, mas não esqueçamos de que somos meros frutos de nossas funções, sejam elas eclesiais ou laicas. Para melhorar, ou piorar a situação, há aqueles periódicos que são administrados por pensadores evangélicos, e que, nesse momento, entenderam a oportunidade de uma “trégua” na batalha por fiéis e incorporaram a fala do padre ao discurso editorial, político, e, diga-se de passagem, evangélico do periódico.
Não estou aqui dizendo que religiosos, sejam eles católicos ou evangélicos, não podem opinar. Na verdade devem. Esse não seria o papel principal deles? O de orientar as “ovelhas”? Mesmo assim precisamos ter consciência de que sem o devido cuidado a mesma publicação, que inicialmente teria uma linha clara denotativa, pode acabar se transformando em peça conotativa na mente da maioria das pessoas.
Do mesmo modo como acontece no jogo do poder, as igrejas hoje travam verdadeiras batalhas espirituais com objetivo de propagar sua doutrina e aumentar o seu rebanho. E não se espantem se a base para a discussão política sair dos porões das igrejas.
Em vez de Jesus ser o centro em comum dessas denominações, sejam elas católicas das Cebs, RCC ou neo-catecumenais, e evangélicos protestantes, pentecostais, neo-pentecostais, etc..., A única base que vemos hoje para um falso ecumenismo é na política. Como na Bíblia, quando interpretam os capítulos e versículos da maneira doutrinal que lhes convém esquecendo-se do contexto, utilizam as mazelas da população e a burocracia para iniciar uma batalha de idéias, e quem sabe até homilias no altar. Gosto muito de uma frase adventista que diz: “todos nós sabemos que um texto fora de contexto é um pretexto para alguma coisa...” Sem esquecer que eles também (os adventistas) têm seus pretextos doutrinais, mas isso não vem ao caso agora.
Não devemos ignorar a fé das pessoas, muito menos a política. É preciso um caminho e direcioná-las, a fé e a política, para onde mais se precisa delas, ou seja, nas comunidades carentes, na educação, no combate às drogas, na recuperação da dignidade humana e principalmente na evangelização. E, por que não, mais um puxão de orelhas?