“Onde tem uma proibição, tem um desejo”, Freud.
Uma questão polêmica foi levantada na ‘Cúpula das
Américas’ neste sábado. O presidente dos EUA disse, categoricamente, que é
favorável a debater “alternativas” à atual política antidrogas na América
Latina, mas reiterou sua posição contrária à legalização.
Ora! Como disse Guevara, “deixe-me correr o risco de
parecer ridículo (...)”, mas está na hora do assunto entrar em outra esfera de
categoria fora do “mundo das ideias” de onde nunca sai. Enquanto Obama acha que
é preciso considerar as evidências e fazer um debate está mais do que na hora
do poder público e da sociedade em geral provocar isso. E quer saber... Vou
começar por aqui.
Apelo para a psicanálise (Freud, mais especificamente)
para expor uma opinião desconcertante. “Onde tem uma proibição, tem um desejo”.
Para começo de conversa, se não fosse bom não precisava proibir. Ninguém proíbe
ninguém de bater a cabeça na parede.
Conforme a psicanalista Maria Rita Kerl, a proibição
indica um valor de gozo no objeto. A falta de proibição ia diminuir isso.
Portanto, numa esfera global, sou sim a favor da legalização. Entendam que só
na América do Sul seria totalmente contra, pois um país como o Brasil, ou
Colômbia, por exemplo, virariam entreposto do tráfico internacional. E é justamente
pensando em combate ao tráfico que tenho essa opinião.
É sabido, e não seria necessária nenhuma estatística, que
morre mais gente no tráfico do que de overdose. Não são somente os traficantes
ou usuários de drogas, mas as vítimas de balas perdidas.
A legalização daria outra cara à face horrorosa do crime
organizado. Acabaria, em parte, com a venda ilegal de entorpecentes. É claro que
ninguém tem interesse em legalizar nada, principalmente os grandes do tráfico
porque o produto, embutido de impostos, ficaria mais caro.
Voltando ao ponto de vista psicanalítico, na legalização fica óbvio que o drogado é um sujeito de suas próprias escolhas, porque ele estaria
fazendo uma coisa que é permitida no qual ele poderia falar abertamente. O
usuário tocaria no assunto sem tabus, conversaria, questionaria: por que tem
gente que se droga mais, outros menos, uns ainda nem mais nem menos?
Apesar de ser um risco e que as drogas não são boas para
saúde, e outros argumentos contrários, ia morrer muito menos gente. No caso,
aqueles que vão além do limite, como os que abusam do cigarro e do álcool.
Muita gente ainda vai perder a vida
antes que essas discussões cheguem à mesa da ‘Cúpula’, como aquele indivíduo
que comprou uma merreca e não pagou e foi executado por isso. Essa é uma,
das muitas atrocidades que o consumo ilegal das drogas proporciona.
Principalmente numa sociedade que diz o tempo todo: drogue-se! Sem usar o nome
da droga. Isso que realmente é hipocrisia.
Viver numa sociedade como essa é esquisito. Todo o tempo, nas propagandas, nos programas,
nos anúncios (aí que está o paradoxo, as propagandas apelam o tempo todo para
algum tipo de ‘barato’ evocando o prazer, a farra, o gozo, etc) chama a ‘onda’,
o ‘barato’ e ao mesmo tempo não conversa sobre droga nenhuma... Porque é
proibido.
Enquanto disserto sobre a legalização, penso que alternativas de combate não funcionam pelo autoritarismo, pela proibição.
Acho que o caminho está na coletividade, nos instrumentos que valorizam os
grupos, a troca de ideias, a cultura, política as ações sociais, porque o
encontro é uma fonte de prazer que droga nenhuma substitui. Mesmo não dando satisfação imediata.