“Para psicanálise a toxicomania não é só doença. É sintoma”, Maria Rita Kehl.
por Roney Moraes *
Não é fácil falar sobre drogas. Uma vez que
ninguém se interessa pelo assunto. Preferem jogar o problema para debaixo do
tapete, a não ser àqueles que sofrem de alguma maneira com o problema em sua
família ou outra circunstância parecida.
A verdade inconveniente é que as drogas estão dentro da casa de todo o
mundo, sem exceção.
Para aqueles que esbugalharam os olhos.
Poderia escrever uma indireta. Mil iriam ler, mas você, que precisa realmente
entender a questão, não ia dar a mínima. Por isso venho falar um pouco sobre
esse “mal” que tanto assombra o seio de muitas famílias.
Ação conjunta! Esta é a frase de ordem para que as coisas
realmente aconteçam no que diz respeito ao combate às drogas, sem esquecer a
intervenção e, principalmente, tratamento dos dependentes químicos, onde muitos
trabalhos devem ser revistos e reavaliados.
Os esforços do poder público
são louváveis até que esbarrem na palavra política, tão controversa que hoje
perdeu seu verdadeiro significado tornando qualquer objeto de sofrimento social
um trampolim para uma pauta eleitoreira partidária. E não é isso que queremos
nesse momento.
O que a opinião pública e a
sociedade realmente querem é uma solução paliativa para o “mal” do milênio, ou
seja, o consumo doentio e abusivo de substâncias psicoativas que destroem não
só a família, mas a “pólis”, como sendo reunião dos cidadãos, sob mesmas leis e
território, formando a cidade-estado. A comunidade. É dessa palavra (pólis) que
deriva o termo política.
Devemos recorrer a estratégias de enfrentamento levando em consideração a região, cultura e perfil, se urbano ou rural, para uma melhor eficácia nessa luta que é árdua, infinita, cansativa, mas que vale a pena quando uma vida é restaurada por ações sérias e precisas que vão direto a causa do “problema”, não apenas à superficialidade do uso em si.
Devemos recorrer a estratégias de enfrentamento levando em consideração a região, cultura e perfil, se urbano ou rural, para uma melhor eficácia nessa luta que é árdua, infinita, cansativa, mas que vale a pena quando uma vida é restaurada por ações sérias e precisas que vão direto a causa do “problema”, não apenas à superficialidade do uso em si.
Todas as ações coletivas que
não levarem em consideração a individualização e a subjetividade do sujeito
serão fadadas ao fracasso. Quero dizer com isso que padrões imutáveis de
tratamento ou muros de concreto aprisionando dependentes não resolvem a questão
e nunca resolverão. O tema é mais profundo do que imagina nossa vã filosofia,
por isso recorro ao pensamento de Hannah Arendt quando ela falava sobre a causa
de nossa ação.
O que nos faz agir
politicamente? O interesse da filósofa alemã não é diferente do nosso, pelo menos
do meu. Em suas reflexões, originárias do pensamento grego, ela distingue
dimensões da atividade humana e, uma delas, em especial, me chama atenção, a
“animal laborans”, que sugere um agente aprisionado pelas necessidades
biológicas e trabalha somente para prover sua subsistência. Ora! O que fazem os
dependentes a não ser mover-se para conseguir saciar a insaciável compulsão?
Penso que, como afirma a
obra “A Condição Humana”, a ação política deve manter instituições responsáveis
pela criação de condições para receber os recém chegados ao mundo. Atualizando
para o tema, ouso dizer que também merecem a classificação de renascimento, os
que obtiveram êxito em um tratamento de dependência química, uma vez que
retornam dos mortos.
Por isso tenho que reconhecer que o poder público sozinho não
pode resolver o problema. Toda a sociedade deve se envolver, pois a droga, em
si, não é o foco, é mais um sintoma de um problema social que deve ser
resolvido, para que o indivíduo não procure esse “escape” e enfrente a vida
como ela realmente é. Mas, para isso, ele, o adicto, precisa de ajuda de
pessoas que não abusem de substâncias psicoativas que estão ao alcance de
qualquer um.
Enfim, os puritanos, críticos e “caretas” consumidores
frenéticos de álcool, tabaco, tranquilizante, calmante e outras drogas lícitas deveriam
tomar mais cuidado para não acabarem entre os 10% de pessoas que não possuem
qualquer controle sobre essas substâncias. Pensem nisso!
* Roney Moraes é psicanalista, jornalista e teólogo.
Contatos: roneyamoraes@gmail.com
Fone: (28) 9969 6773 / (28) 9277 8697
/ (28) 8111 3617