"Se
você entendeu, você provavelmente está errado", Lacan.
por
Roney Moraes*
No
domingo (06 de maio) comemora-se o Dia do Psicanalista. A data escolhida em
homenagem a Sigmund Freud que nasceu em 6 de maio de 1856, em Freiberg, Moravia
(atualmente Pribor, Checoslovaquia). Por isso a questão abordada será sobre o
papel da Psicanálise Clínica junto aos demais trabalhadores da saúde mental
que, de alguma forma, nos hospitais psiquiátricos e nos serviços substitutivos
instituídos pela reforma psiquiátrica, lidam com a saúde.
Em
artigo publicado no meio psicanalítico, Doris Rinaldi, nos faz questionar sobre
o desejo do psicanalista em ampliar seu campo de atendimento, principalmente no
ambiente hospitalar. Para isso, ela utiliza os discursos de Freud e Jaques
Lacan, outro famoso psicanalista que tomou por base os estudos da linguagem,
para embasar sua tese.
Lacan
diz respeito ao lugar do psicanalista frente aos trabalhadores da saúde mental
(psicólogos, psicoterapeutas, psiquiatras) que, “nas bases e na dureza aguentam
toda a miséria do mundo”.
Em
sua resposta, ao mesmo tempo irônica e enigmática, ele se vale da noção de
discurso, ao apontar para o fato de que “aguentar a miséria” é participar do
discurso que a condiciona, mesmo que protestando contra ele.
Quanto
ao psicanalista, deparados com esta “miséria”, não podemos esquecer as
observações de Freud em 1919 que, reconhecendo o reduzido âmbito de atuação da
prática psicanalítica, limitada aos consultórios privados, por isso há uma
necessidade clara de extensão dessa clínica para atingir outras camadas da
população. A assistência pública seria
uma via para este acesso.
“O
que o motiva a fazer esta consideração é a existência de uma imensa ‘miséria
neurótica’ no mundo, que ameaça a saúde pública tanto quanto as doenças orgânicas,
exigindo, portanto, uma ação do psicanalista na instituição pública”, diz
Doris.
Tudo
isso nos leva a refletir sobre o lugar da psicanálise naquilo que Lacan
designou como “extensão”, que diz respeito não apenas à transmissão da
psicanálise por via das instituições psicanalíticas, seja pelo ensino ou pelo
testemunho que os analistas aí podem dar de seu percurso, mas também pela
prática da psicanálise no âmbito das instituições públicas de assistência,
onde, através de laços sociais múltiplos, ele se defronta com outros discursos
que sustentam diferentes práticas no campo da saúde mental.
Hoje,
além dos consultórios privados, para a população mais carente apenas a
iniciativa de alguns profissionais tem o objetivo de dar acesso, mesmo que
superficial, a comunidade mais carente. Os atendimentos sociais, mesmo que
precários nos quesitos material, conforto, tempo e continuidade, ainda sim são
exemplos de insistência para que a psicanálise aumente seu campo de
atuação.
Para
que este acesso (da população menos favorecida) continue é necessária vontade
política e também privada. Se por um lado, a via pública seria provocar
confronto com outros profissionais psi, a ‘clínica social’ deve ser estimulada
tanto pelos poderes constituídos democraticamente quanto pela iniciativa
privada.
*Psicanalista,
jornalista e teólocgo.