terça-feira, 9 de abril de 2013

Na teoria, a prática é outra




“Que a inspiração chegue não depende de mim. A única coisa que posso fazer é garantir que ela me encontre trabalhando”, Pablo Picasso.

por Roney Moraes*

Tantas coisas me passam pela cabeça. Muitos temas, mas pouca inspiração. Às vezes acontece e há quem diga que o melhor é deixar a página em branco. Não farei isso. No último domingo (07) foi comemorado o dia do jornalista, então, para uma meia dúzia, a pauta nunca cai. E me incluo nesse meio.

Pensei em escrever um artigo sobre inclusão. Dei aula no sábado sobre o assunto no curso de pós-graduação em Educação Especial e Inclusiva. Vi a capa do jornal do dia seguinte em uma rede social e aguardei a chegada da matéria para ajudar a confeccionar minha linha de raciocínio de forma didática. Acho que nos fins de semana algum vizinho chega na minha garagem primeiro e inclui em sua coleção os meus exemplares desaparecidos.

Poderia discorrer sobre a conscientização do autismo. Pais, parentes e familiares realizaram uma passeata todos vestidos de azul e dizer, numa crônica, que meu sobrinho quis levar a estátua da Mônica (personagem de Maurício de Souza), fixada na Praça de Fátima, para casa. Além disso, outros assuntos, menos relevantes socialmente, mas importantes para minha vida como chegar atrasado à festa de aniversário de 92 anos de minha avó paterna. Estava a trabalho, mas fui até ela para lhe entregar o presente. Lembramos a época em que fazia bolinhos de chuva para os netos. Foi melhor do que a encomenda. Saí bem.

Rever os parentes, as conquistas importantes dos primos, o orgulho dos tios. Tudo isso é importante, mas ainda estou em dívida com minha irmã porque sequer tive tempo para ver minha nova sobrinha em Vila Velha. Que vergonha! Uma hora dessas vou num pé volto noutro, mas na teoria, a prática é outra. Em todos os sentidos e temas que passearam pelo meu pensamento.

Hoje, atuo mais como terapeuta e professor do que repórter, editor ou outra coisa do gênero. Escrevo semanalmente. É a força do hábito. Não deixei de ser jornalista. “É uma cachaça”, dizem muitos, e eu, como tenho sérios problemas de compulsão, com este ofício não seria diferente. Então lembrei de outros assuntos que permearam a semana: o preço do tomate e as conquistas trabalhistas das empregadas domésticas.  Seriam dois pratos cheios (sem salada de tomate, lógico e matematicamente inviável), mas não vou dizer, sem desmerecer a profissão, que uma pessoa sem instrução pode ter vencimentos maiores do que alguns professores e que a maioria dos jornalistas. Jamais faria isso.

Quanto a aplicação da lei vamos ver se segue aos discursos inflamados. Quase tive outro infarto (pois é, tive uma obstrução coronária na virada do século) quando liguei a televisão e dei de cara com Renan Calheiros em rede nacional. Por falar em jornalistas, este parlamentar adora as arrumadinhas.

Enfim... Cheguei a conclusão de que filosofar com meus botões sobre estes temas seria mais interessante, porque quem melhor do que eu para entender a mim mesmo? Muitos tentam, mas não conseguem, sequer, passar perto. Todos nós temos momentos em que precisamos repensar nossos conceitos, nos aprimorar, sermos desafiados, passar por diversidades e crescer. Claro, volto a repetir, sem moderação, que, para não deixar a folha em branco: na teoria, a prática é outra.

*Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL)