sexta-feira, 26 de abril de 2013

Prosa em poesia na praça




“Ah, que vontade de escrever bobagens bem meigas, bobagens para todo mundo me achar ridículo e talvez alguém pensar que na verdade estou aproveitando uma crônica muito antiga num dia sem assunto, uma crônica de rapaz; e, entretanto, eu hoje não me sinto rapaz, apenas um menino, com o amor teimoso de um menino, o amor burro e comprido de um menino lírico”, Rubem Braga.

por Roney Moraes*

O convite foi feito. Nas redes sociais, pelos professores, alunos... Sabia que algo iria acontecer na Casa dos Braga, mas, confesso, não esperava tanto. Os professores e mais 80 alunos do curso de Letras do Centro Universitário São Camilo tiveram uma ideia tão brilhante quanto as velas verdes que incandesciam os postes na Praça da Poesia.

Estava em casa... Não na casa do cronista, na rua, mas lembrei da turma quando estudei na Fafi. Lembrei de todo mundo. Até daqueles que esqueci o nome. O ambiente era familiar (antes do Google íamos pesquisar na biblioteca que fica na Casa) porque minha mãe é uma egressa do curso de Literatura e também esteve presente a companheira de jornalismo e de Academia de Letras, Célia Ferreira.

Achei o máximo a anarquia organizada. Da janela lateral na Casa dos Braga apareciam leitores se revezando nas crônicas bairristas de Rubem. No centro da praça músicos tocavam e cantavam os temas de acordo com o contexto das histórias pitorescas do cachoeirense. No meio da rua, abobalhado, quando olhava para cima, de repente, na minha frente, tinha uma aluna lendo Rubem Braga. Aliás, Rubem estava espalhado por todo o canto. Até no meio da Rua 25 de Março. No caos entre os veículos cachoeirenses, enfim um bom motivo para parar o trânsito.

A apresentação dos pios lembrou passarinhos que o velho imortalizou nos textos que deveriam, em tese, ser instantâneos. Só Rubem Braga para fazer até os morcegos manobrarem com voos rasantes sem que alguém entrasse em pânico. Ninguém ligou para eles.  Queriam chamar atenção. Pobres diabos. O dia era do companheiro de Bebu e nem era madrugada.

Comparada com a minha vã imaginação. A filosofia do trabalho foi exuberante. Digna de ser lembrada e reeditada. Muita coisa vem por aí, mas acho difícil uma noite assim, em que a música foi declamada o bloco da cultura foi parar na rua e a prosa virou poesia.

*Psicanalista, professor e jornalista. Membro da Academia Cachoeirense de Letras (ACL)