"Uma pulsão é um impulso, inerente à vida orgânica, a
restaurar um estado anterior de coisas, impulso que a entidade viva foi
obrigada a abandonar sob pressão de forças perturbadoras externas”, Freud.
Olhar uma situação trágica livre de preconceitos é
extremamente difícil. Mesmo profissionais que lidam diariamente com o
noticiário violento não estão isentos de sensações, indiferenças e julgamentos
precoces sob determinado ato, considerado por grande parte da população,
"abominável". Aqui jaz um julgamento sobre a morte.
A psicanálise disponibiliza esse olhar - sem discriminação -
para as dores da alma. Tanto o suicídio, assassinato e acidentes fatais são
observados com cautela e, em alguns casos, com possíveis caminhos para o
entendimento de uma ação que culmina no rompimento com a vida.
Tentar entrar num campo minado por especulações é uma tarefa
perigosa para qualquer pesquisador, mas, poderemos não pisar em ovos ao citar
algumas teorias sem a pretensão generalizadora ou verdade inviolável.
Há dois problemas aqui: o homicídio e o suicídio. A
responsabilidade deveria ser avaliada, conforme o ato, a partir da identidade
pessoal e da pluralidade cultural, pois, segundo a psicanálise, a implicação do
inconsciente divide o sujeito de sua identidade e do meio social. Então
questionaremos que força externa ou interna (consciente ou inconsciente,
neurótica, psicótica ou perversa) desencadeou a ação e quem a realizou?
Por isso, a psicanálise se interroga a respeito de novos
sintomas e do mal-estar na atualidade. É possível que ela possa ajudar a
alcançarmos algumas ideias sobre a questão da violência em nosso tempo,
propondo mecanismos para sua compreensão por meio do inconsciente e da
satisfação pulsional.
Temos impulsos
originários que supomos existir por trás das tensões. São exigências físicas
resultantes do "combate" antagônico das forças psíquicas. Em outras
palavras, Impulso de Morte e Pulsão de Vida (Thanatos e Eros) são estas as
hipotéticas combinações fundamentais que estariam em combate constante e influenciam na
sobrevivência humana.
As pulsões trabalhariam sempre em oposição umas às outras e
essas forças destrutivas seriam desviadas para fora pela Pulsão de Vida na
forma de agressão, ajudando o organismo a manter-se protegido ou até liberando
uma ação agressiva contra outros.
Quando uma pulsão sobrepõe-se à outra - fora do jogo de
equilíbrio - acontece a ação. Segundo, Iris Letícia Lage, no artigo "Reflexões
Psicanalíticas sobre o Suicídio", o ato suicida é visto em parte, como um
evento onde a Pulsão de Morte prevalece em relação à Pulsão de Vida.
Então, entre o homicídio (violência) e o suicídio, estão as pulsões e não há
proibição suficiente para impedir tais episódios brutais, uma vez que, para a psicanálise,
a própria lei (que proíbe a violência) tem suas origens nos interesses
violentos de um grupo de indivíduos.
Também, ela, a psicanálise, vê a morte
(suicídio) como um parto ao contrário, onde se deseja o retorno ao útero
materno.
O que fazer, então? Como lidar com essas questões? Com a morte ou com a vida? Cuidar, agir e refletir. Estes sãos os primeiros passos. E estamos caminhando... Aqui
e agora!