"A moral, propriamente dita, não é a doutrina que nos ensina como sermos felizes, mas como devemos tornar-nos dignos da felicidade", Immanuel Kant.
por Roney Moraes*
A ética cristã
brasileira é marcada por uma intensa ambigüidade: o reconhecimento de que devem
ser “diferentes” é acompanhado pelo conservadorismo moral nos âmbitos social e
político, que não permite fazer ir muito além do que se costuma chamar de
testemunho pessoal.
Cautelosos, os
cristãos hoje são sinônimos de honestos, os convertidos do pecado do mundo para
uma vida de santidade plena, mesmo assim pecam, afinal, quem não peca? Só Jesus
Cristo.
De acordo com
o texto “Evangélicos e a ética brasileira”, não é possível pensar em ética
cristã de forma desvinculada da teologia: “a ética cristã é fundamentalmente a
exploração da importância prática da visão teológica revelada na narrativa
bíblica.” Sem teologia, a ética das comunidades se dilui em busca de códigos de
conduta diferenciadores da sociedade não-evangélica (...)”, isso, de fato,
seria verdade, se englobado todos os mecanismos evangélicos ( digo também os católicos
carismáticos e os teólogos da libertação, que pregam o ecumenismo e o diálogo
inter-religioso).
O papel das
igrejas evangélicas no processo eleitoral também vem crescendo no país. “O
grande risco é confundir a missão (ética) com um projeto político-partidário
específico, o que rompe com a tensão escatológica própria ao cristianismo, e
subordina a teologia à ideologia”.
Para o autor
Júlio Paulo Tavares Zabatiero, esse risco não está distante, é perceptível em
discursos e ações de certas instituições denominacionais que pendem para uma
atuação política ao estilo de cristandade. “Alcançar o poder para se beneficiar
e para fazer do Brasil um país evangélico, fazer da população brasileira uma
que siga os princípios de conduta considerados evangélicos”.
Como preparar
a população não cristã para rejeitar os grandes vícios e pecados sociais? Esse
seria o desafio. Segundo as doutrinas mais conservadoras não seriam mais
aceitos: divórcio, alcoolismo, homossexualidade e os demais pecados sexuais,
corrupção. Em geral, os evangélicos não têm um projeto para o Brasil, como
também não o tem a população brasileira como um todo, nem os detentores do
poder estatal de plantão. Por um lado, isso ajuda a diluir o modelo de
cristandade. Por outro, coloca todos na dependência de projetos políticos
partidários sem identificação explícita com uma visão cristã da vida da nação.
O principal
desafio que confronta todos os pensadores da religião é a construção de
projeto, o qual precisa ser teológico, e não ideológico.
Para uma ética
transformadora, fiel à tradição, ela pode ser adequadamente entendida e
descrita como uma ética da liberdade em amor.
Conforme o
autor Alderi Souza de Matos, a palavra “ética” vem do grego ethos e se refere
aos costumes ou práticas que são aprovados por uma cultura. A ética é
a ciência da moral ou dos valores e tem a ver com as normas sob as quais o
indivíduo e a sociedade vivem. Essas normas podem variar grandemente de uma
cultura para outra e dependem da fonte de autoridade que lhes serve de fundamento.
“A ética cristã tem
elementos distintivos em relação a outros sistemas. O teólogo Emil Brunner
declarou que a ética cristã é a ciência da conduta humana que se
determina pela conduta divina. Os fundamentos da ética cristã encontram-se
nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento, entendidas como a revelação
especial de Deus aos seres humanos”, ressalta.
De acordo com
Alderi, a ética é importante para a vida diária do cristão. A cada
momento precisamos tomar decisões que afetam a outros e a nós mesmos.
A ética cristã ajuda as pessoas a encarar seus valores e deveres
de uma perspectiva correta, a perspectiva de Deus. Ela mostra ao ser humano o
quanto está distante dos alvos de Deus para a sua vida, mas o ajuda a progredir
em direção esse ideal.
Se fosse
possível declarar em uma só sentença a totalidade do dever social e moral do
ser humano, poderíamos fazê-lo com as palavras de Jesus: “Amarás o Senhor teu
Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento...
e amarás o teu próximo como a ti mesmo”. (Mt 22, 37 e 39)