domingo, 13 de maio de 2012

Entre a leitura e a literatura




 “Deito-me um pouco para ler, mas deixo o livro, fico a olhar pela janela (...)”, Rubem Braga – Os Trovões de Antigamente.


por Roney Moraes*

Existe outro sujeito entre esses dois fenômenos, o da leitura e a literatura. O escritor. A produção, literária ou não, está entre o leitor e a escrita. Mas, afinal, qual o papel de cada um nessa história toda? Tudo! É claro que todos têm sua finalidade distinta e fazem parte de uma “ponte” para que a arte seja o objeto final da união das três situações.
O leitor não teria necessariamente uma ligação essencial com o fenômeno da linguagem, ao contrário do agente mediador entre a literatura, digo o escritor. Mesmo assim é reconhecidamente importante para o processo de criação literária.
Para um escritor é imprescindível ter o hábito da leitura de obras que o inspirem para sua produção, seja ela crônica, conto, poesia, romance, novela... A literatura deve ser algo, para o produtor de texto, como respirar. Não dá para viver sem ler e vivenciar a boa literatura. A ruim também, pois com ela aprendemos como não devemos agir. Escrever.
São inúmeras as formas do homem expressar-se, mas é pela arte que ele consegue de forma mais sublime. A própria arte pode se apresentar de várias maneiras: pintura, escultura, música, teatro, arquitetura ou, então, a literatura. Cabe à literatura ser a arte da palavra.
Gosto da definição do poeta amazonense R. Samuel que diz: “a arte não pode se identificar com utensílio. A arte é gratuita, isto é, sua finalidade é quase a própria arte. A arte não deve ter finalidade porque é finalidade em si mesma. É uma atividade lúdica, isto é, não tem finalidade fora de si mesma”. Então, o artista, portanto, é aquele que se preocupa com o objeto da arte; aquele que produz emoção; que faz do comum algo diferente; também transforma a realidade refletindo seu tempo e condição. Neste ambiente, para mim familiar, entram também, como o próprio poeta, os escritores.
Pois bem, o ato de escrever, principalmente para um cronista, é, em primeiro lugar, a forma de reunir os conhecimentos prévios, conhecer sobre o assunto e (imprescindível) estar atento às coisas do mundo. O seu meio ambiente... E colocar no papel, sem dúvida, como Rubem Braga na crônica “Os Trovões de Antigamente” relata que deita, abre um livro, lê, deixa de ler e vai para a janela observar o cotidiano, as galinhas, as trovoadas, a tempestade, a enchente...
Deu para notar que escrevo basicamente sobre a crônica, pois é o gênero que me fascinou. Ele vem despertando, nos iniciados literalmente, desde o início, essa curiosidade. A crônica é literária ou não? Bem, acredito que as duas coisas.
Sendo, em minha opinião, e digo isso desde outros carnavais (textos), a forma mais importante do Brasil, a crônica tem os dois lados, o literário com recriação de linguagem mais conotativa, que possibilita várias interpretações, como a jornalística (não literária) que se associa mais a um comentário. O bom cronista passeia pelos dois gêneros.
Na realidade, quem utiliza deste estilo funciona como um radar e rastreia no universo notícias e assuntos que atinjam a sensibilidade do leitor. Ele vai adaptar essa história sob formato de conto. Pequeno, porque vive esse espaço de tempo. Feito no modo confessional, pois vai ter que mostrar a sua cara de forma transparente para aquele que o lê interaja com ele. Quando o leitor ler a crônica ele meio que conversa com o cronista.
Uma comparação seria com um filme de curta metragem, porque ele tem uns sete minutos para transmitir a sua mensagem. Se isso não acontece o público fica decepcionado. É o mesmo caso do cronista.
A mídia veicula notícias que nem sempre se detém numa análise que os assuntos merecem. O cronista pinça esses assuntos e vai dissecar de uma de uma forma sucinta de modo a atingir o leitor.
Escrever também é para mim uma atividade prazerosa. Quando faço uma graça ou utilizo textos cômicos então... Uma comédia... É como se a subjetividade driblasse a objetividade. Um exemplo matemático: se 4 - 4 = 0 e 5 – 5 = 0 então 4 – 4 = 5 - 5 onde 4x(1-1) = 5x (1-1). Corta as igualdades e dá-se 4 = 5 então 4 = 2+2 que é igual 5!  Me divirto muito durante a escrita. E não pensem que a piada é um gênero menor. Wood Allen, que é uma autoridade no assunto, já disse que acha mais difícil fazer comédia do que um drama.
Numa entrevista que fiz ao cronista, poeta e professor Adriano Spínola, na primeira Bienal Rubem Braga, ele me confidenciou que “(...) nenhum povo consegue ter escritores com esse grau de liberdade, beirando até a irresponsabilidade. Muitas vezes o cronista deixa para escrever sua crônica na última hora, como já fiz também, e isso não aconteceria, jamais, em países da Europa ou Estados Unidos. Então nenhum outro povo do mundo, pelo menos nos lugares onde passei, é capaz de dar um drible desconcertante no futebol e também na crônica”. E digo mais, pedalada até na matemática se for necessário.
Enfim não há um bom escritor que não seja um leitor voraz com fome de informação, formação e vivência. Um escritor precisa ler bons textos para escrever bons textos. Um bom escritor é sempre um bom leitor, e a experiência é adquirida com esses hábitos: o de ler, escrever e viver.

Curtíssimas
+ Falando em arte, um abraço para todo pessoal da banda Tapete Voador!
+ Dia 18 tem Art & Vozz na AABB (anos 80)!
+ Um abraço para os leitores Rodrigo e Índio da Ágatha Granitos.
+ Quer comprar o FATO? Vai à Moreno’s Revistaria na rua Allan Carone no BNH.
+ Comunidade Vida Nova realiza Retiro dos Namorados de 18 a 20 deste mês.
+ Eu já sabia... Fluzão campeão!
+ Vejo todos na IV Bienal Rubem Braga, até!

*Psicanalista, jornalista e teólogo.