“Deito-me um
pouco para ler, mas deixo o livro, fico a olhar pela janela (...)”, Rubem Braga
– Os Trovões de Antigamente.
por Roney
Moraes*
Existe outro sujeito entre esses dois
fenômenos, o da leitura e a literatura. O escritor. A produção, literária ou
não, está entre o leitor e a escrita. Mas, afinal, qual o papel de cada um
nessa história toda? Tudo! É claro que todos têm sua finalidade distinta e fazem
parte de uma “ponte” para que a arte seja o objeto final da união das três
situações.
O leitor não teria necessariamente uma
ligação essencial com o fenômeno da linguagem, ao contrário do agente mediador
entre a literatura, digo o escritor. Mesmo assim é reconhecidamente importante
para o processo de criação literária.
Para um escritor é imprescindível ter o
hábito da leitura de obras que o inspirem para sua produção, seja ela crônica,
conto, poesia, romance, novela... A literatura deve ser algo, para o produtor
de texto, como respirar. Não dá para viver sem ler e vivenciar a boa
literatura. A ruim também, pois com ela aprendemos como não devemos agir. Escrever.
São inúmeras as formas do homem
expressar-se, mas é pela arte que ele consegue de forma mais sublime. A própria
arte pode se apresentar de várias maneiras: pintura, escultura, música, teatro,
arquitetura ou, então, a literatura. Cabe à literatura ser a arte da palavra.
Gosto da definição do poeta amazonense
R. Samuel que diz: “a arte não pode se identificar com utensílio. A arte é
gratuita, isto é, sua finalidade é quase a própria arte. A arte não deve ter
finalidade porque é finalidade em si mesma. É uma atividade lúdica, isto é, não
tem finalidade fora de si mesma”. Então, o artista, portanto, é aquele que se
preocupa com o objeto da arte; aquele que produz emoção; que faz do comum algo
diferente; também transforma a realidade refletindo seu tempo e condição. Neste
ambiente, para mim familiar, entram também, como o próprio poeta, os escritores.
Pois bem, o ato de escrever, principalmente
para um cronista, é, em primeiro lugar, a forma de reunir os conhecimentos
prévios, conhecer sobre o assunto e (imprescindível) estar atento às coisas do
mundo. O seu meio ambiente... E colocar no papel, sem dúvida, como Rubem Braga
na crônica “Os Trovões de Antigamente” relata que deita, abre um livro, lê,
deixa de ler e vai para a janela observar o cotidiano, as galinhas, as
trovoadas, a tempestade, a enchente...
Deu para notar que escrevo basicamente
sobre a crônica, pois é o gênero que me fascinou. Ele vem despertando, nos
iniciados literalmente, desde o início, essa curiosidade. A crônica é literária
ou não? Bem, acredito que as duas coisas.
Sendo, em minha opinião, e digo isso
desde outros carnavais (textos), a forma mais importante do Brasil, a crônica
tem os dois lados, o literário com recriação de linguagem mais conotativa, que
possibilita várias interpretações, como a jornalística (não literária) que se
associa mais a um comentário. O bom cronista passeia pelos dois gêneros.
Na realidade, quem utiliza deste estilo
funciona como um radar e rastreia no universo notícias e assuntos que atinjam a
sensibilidade do leitor. Ele vai adaptar essa história sob formato de conto. Pequeno,
porque vive esse espaço de tempo. Feito no modo confessional, pois vai ter que
mostrar a sua cara de forma transparente para aquele que o lê interaja com ele.
Quando o leitor ler a crônica ele meio que conversa com o cronista.
Uma comparação seria com um filme de
curta metragem, porque ele tem uns sete minutos para transmitir a sua mensagem.
Se isso não acontece o público fica decepcionado. É o mesmo caso do cronista.
A mídia veicula notícias que nem sempre
se detém numa análise que os assuntos merecem. O cronista pinça esses assuntos
e vai dissecar de uma de uma forma sucinta de modo a atingir o leitor.
Escrever também é para mim uma atividade
prazerosa. Quando faço uma graça ou utilizo textos cômicos então... Uma
comédia... É como se a subjetividade driblasse a objetividade. Um exemplo
matemático: se 4 - 4 = 0 e 5 – 5 =
0 então 4 – 4 = 5 - 5 onde 4x(1-1) = 5x (1-1). Corta as igualdades e dá-se 4 = 5
então 4 = 2+2 que é igual 5! Me divirto
muito durante a escrita. E não pensem que a piada é um gênero menor. Wood
Allen, que é uma autoridade no assunto, já disse que acha mais difícil fazer
comédia do que um drama.
Numa entrevista que fiz ao cronista, poeta e
professor Adriano Spínola, na primeira Bienal Rubem Braga, ele me confidenciou que
“(...) nenhum povo consegue ter escritores com esse grau de liberdade, beirando
até a irresponsabilidade. Muitas vezes o cronista deixa para escrever sua
crônica na última hora, como já fiz também, e isso não aconteceria, jamais, em
países da Europa ou Estados Unidos. Então nenhum outro povo do mundo, pelo
menos nos lugares onde passei, é capaz de dar um drible desconcertante no
futebol e também na crônica”. E digo mais, pedalada até na matemática se for
necessário.
Enfim não há um bom escritor que não seja um leitor voraz com fome
de informação, formação e vivência. Um escritor precisa ler bons textos para
escrever bons textos. Um bom escritor é sempre um bom leitor, e a experiência é
adquirida com esses hábitos: o de ler, escrever e viver.
Curtíssimas
+ Falando em arte, um abraço para todo pessoal da banda
Tapete Voador!
+ Dia 18 tem Art & Vozz na AABB (anos 80)!
+ Um abraço para os leitores Rodrigo e Índio da Ágatha
Granitos.
+ Quer comprar o FATO? Vai à Moreno’s Revistaria
na rua Allan Carone no BNH.
+ Comunidade Vida Nova realiza Retiro dos Namorados de 18 a
20 deste mês.
+ Eu já sabia... Fluzão campeão!
+ Vejo todos na IV Bienal Rubem Braga, até!
*Psicanalista, jornalista e teólogo.