segunda-feira, 21 de maio de 2012

O poder da palavra




“Eu tenho uma imagem presa na garganta. Ser gente me arranha, eu quero voltar a ser palavra”, Viviane Mosé.


"Heráclito disse que não se banha duas vezes no mesmo rio. Com a psicanálise aprendi que não se banha duas vezes na mesma palavra. Como escritor tenho aprendido que quando se entra numa palavra para se banhar, sai-se outro. Como leitor, adoro estar i-mundo (sic) de palavras". Abro meu texto pegando carona, descaradamente, na reflexão do escritor Carlos Eduardo Leal, porque é assim que me sinto. Muito bom quando a gente encontra num texto o que nem sabe que estava procurando. Esse foi o caso, mas vamos ao que interessa...
Sobraram críticas à Bienal Rubem Braga por ser realizada na Praça Jerônimo Monteiro. Muitos que só passam por ali de carro, com a pressa que o universo pós-moderno lhes impõe, não estão nem aí para o que acontece ou deixa de acontecer no centro “nervoso” da cidade. A dica que eu tenho para os estressados é... Vão pescar!
Tem um rio enorme que corta Cachoeiro de ponta a ponta. Acho que a pressa é inimiga da perfeição. Longe eu dizer que tudo foi perfeito. O pretérito é perfeito. E a próxima edição, apesar de futura, será mais que perfeita. Mas, voltando ao que assunto, essa desenfreada velocidade é adversária também da visão. Talvez os apressados não saibam nem que existe um rio e que um dia foi navegável e ainda leva as cinzas do homenageado na feira de livros. Rubem Braga.
Lembro-me de uma parábola em que Lacan fala sobre um "diálogo" entre Freud e Jung: "eles não sabem que estamos trazendo a 'peste' como algo virulento, contagioso e transgressor...". E essa transgressão, enquanto o psicanalista se refere à própria psicanálise, para mim, neste momento, é a cultura. A arte tem que bagunçar a cidade mesmo! E, dessa vez, coube à literatura fazer isso, pois ela é a arte da palavra.
Quando dizem por aí que “Freud explica” esse ditado popular nunca esteve tão certo como o ar que eu respiro. “Provocar oposição e despertar rancor (...) é o destino inevitável da psicanálise”, Isso ele disse para referindo-se à cultura, pois achava que não haveria sintonia entre as duas. Mas um ledo engano é cometido nessas ideias.
Com o passar do tempo a psicanálise foi assimilada culturalmente e reconhecida enquanto saber e prática terapêutica. O mesmo, sem dúvida nenhuma, vai acontecer com a Bienal Rubem Braga.
Quem sabe um dia, na semana em que se celebra a “arte da palavra”, o povo tome conta dela. Com o zelo e sabedoria de que a palavra tem um poder enorme. Ora, até o Verbo se fez carne.
A mesma arte que tenta explicar a vida também é reduzida suas possibilidades de sentido por uns poucos estressados que precisam de ajuda, autoajuda ou, até mesmo alfabetização. Não importa! Foi o maior barato. Há muito não via uma festa literária como essa. 
A poetisa, filósofa e psicanalista, Viviane Mosé, falou em uma de suas palestras sobre as potências da palavra que estão na estética, é intensa e desconcertante. Certíssima, pois quebrou os padrões pré-estabelecidos nas “via crucis” de muitos na Capital Nacional da Crônica, que para o escritor Xico Sá, é o Vaticano da arte.

Curtíssimas

+ Parabéns a todos que se esforçaram para a realização da 4ª Bienal Rubem Braga.
+ Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho, Clarice Lispector.
+ Rede Gestora discute II Seminário de Política Sobre Drogas.
+ “A vida sem luta é um mar morto no centro do organismo universal”, Machado de Assis.
+ Até a próxima!