“O conceito de estratégia, em grego strateegia, em latim
strategi, em francês stratégie... Os senhores estão anotando?", Capitão
Nascimento.
por Roney Moraes*
Um milhão
de pessoas já usou o crack no país. E a notícia de que traficantes resolveram
proibir a venda da droga em algumas favelas do Rio de Janeiro não deveria
deixar as autoridades de cabelo em
pé. Na realidade, o problema nunca é visto de cima para baixo
e sim nas ruas. No submundo. Pergunte aos policiais que fazem ronda nas
“cracolândias” espalhadas por todo o canto que eles vão dizer o motivo. Óbvio.
Ninguém quer ser perturbado 24 horas por dia. Nem o vendedor de entorpecentes.
Parar com a
venda de crack, segundo o colunista Ancelmo Góis, é o mesmo que suspender o
comércio de remédios tarja preta. Tem razão. O viciado em medicamento para
dormir ficaria louco de insônia. É mais ou menos por aí.
O
criminoso, nos últimos tempos estava perdendo lucro para uma droga
relativamente barata. É bem mais lucrativo e discreto o usuário comprar R$ 50,00
(cinquenta reais) em cocaína e não voltar mais à noite na Boca de Fumo do que
vender cinco pedras de crack para um dependente que, com certeza, não irá ficar
só naquela quantidade.
O crime
volta a se organizar e tirar de circulação aqueles que chamavam a atenção da
polícia para o seu ponto de venda. Onde há crack também há sempre pessoas
circulando, roubando, pedindo em volta do traficante. Na cabeça do meliante,
mais vale perder uns trocados do que ver a “casa cair” e parar na cadeia por
causa de um bando de dependentes desesperados.
A atuação
de repressão e as campanhas de combate ao crack podem ter ajudado na decisão
que cedo ou tarde acabaria acontecendo. Lembrem-se que essa nova (velha) droga (o
crack é uma nova forma de usar a cocaína) demorou anos para entrar no circuito
Rio x Espírito Santo. Muito antes o estado de São Paulo estava praticamente
dominado pela ‘pedra’, como é popularmente chamada.
De acordo
com o blog do jornalista Luis Nassif, que reuniu alguns especialistas para
abordarem o assunto, Luiz Eduardo Soares, que acabou de lançar "Tudo ou
Nada" (Editora Nova Fronteira) - onde conta a história de um
traficante internacional de drogas - afirmou que o anúncio da proibição de
venda do crack pelos próprios criminosos é reflexo das transformações que vêm
ocorrendo no tráfico do Rio em consequência também do projeto de pacificação de
favelas.
Soares
lembra que "os protagonistas da economia do tráfico são capazes de
avaliações e certamente chegaram à conclusão de que o negócio com o crack tem
alto risco e baixa lucratividade".
Os
traficantes sabem que o crack liquida em pouco o tempo o consumidor. Persistir
nesse negócio é como matar a galinha dos ovos de ouro. Outro especialista diz
que o quadro de repressão ao crack com certeza é um dos fatores. Assim é uma
decisão racional deixar esse produto. Isso evitar a chamar a atenção para o
negócio das drogas mais lucrativas.
Se para
alguns é o tráfico que dita as ordens, para outros podem considerar uma pequena
vitória da sociedade que, com as “armas” que têm, fez facção recuar. Isso em
minha opinião é positivo e operante.
Resta saber
se outros locais de venda vão aderir ao recuo dos traficantes. Hoje, em
Cachoeiro de Itapemirim-ES e adjacências, não há droga mais comercializada do
que o crack e o custo, dependendo da cidade, chega a variar por pedra do mesmo
tamanho entre R$ 5,00 à R$ 20,00.
*Psicanalista, jornalista e teólogo