“O ego é dotado de
um poder, de uma força criativa, conquista tardia da humanidade, a que chamamos
vontade”, Carl Jung.
Desconstruir os mitos gerados em torno da superdotação
foi a principal abordagem que dei na aula ministrada no curso de Pós-graduação
em Educação Especial no fim de semana. Em se tratando de altas habilidades, as
pessoas logo se lembram de personalidades como Einstein, Beethoven, dentre
outros. Mas não é bem esse o caso aqui. Na sala de aula são, na maioria das
vezes, casos problemáticos.
“Por apresentarem
diferenças significativas em relação às concepções tradicionais sobre os
processos de ensino e aprendizagem, tornam-se excluídos do processo
educacional. Apesar da presença física na sala de aula, não aprendem ou
desenvolvem os conceitos, procedimentos ou atitudes planejados pelo projeto
pedagógico realizado para uma média: dada a grande facilidade de aprendizagem,
a organização curricular torna-se desajustada, as ações didáticas tediosas e
desinteressantes e, desse modo, o aluno tem negado o seu direito fundamental à
educação”, estudos sobre AH/SD.
Estudos mostram que estamos lidando com uma necessidade
educacional especial apresentada por alunos que, nas definições oficiais,
demonstram grande facilidade de aprendizagem, potencial elevado e grande
envolvimento com as áreas da ação humana, isoladas ou combinadas: intelectual,
comportamental, psicomotora, artística e criativa.
Um dos principais preconceitos sobre altas habilidades é
de que os superdotados não precisam de atenção especial e que já são
privilegiados. Ledo engano. Geralmente ele é visto como uma pessoa privilegiada
com um dom especial e diante de um falso conceito de igualdade, levanta-se que
as flexibilizações previstas pela educação inclusiva deveriam ser realizadas
apenas para pessoas com deficiências, e, desse modo, se alcançaria uma pretensa
igualdade entre os alunos. O alto-habilidoso é um diferente, uma pessoa com
necessidades especiais, que se não atendido, acaba excluído da escola.
“O diagnóstico de
superdotação deve sempre ser feito por um profissional”, diz Maria Clara
Sodré, doutora em educação de superdotados pela Universidade de Columbia (EUA).
Porém, os não-especialistas, como os pais e os familiares da criança, geralmente
descobrem meio de comparações. Por serem diferentes dos demais, esses alunos
são vítimas de uma série de mitos e preconceitos, e por vezes são alvo
frequente de bullying e discriminação.
Na sala de aula o professor pode identificar indícios de
altas habilidades. O pesquisador Joseph Renzulli desenvolveu um modelo que pode
servir de guia para identificar indícios de altas habilidades. O modelo prevê a
existência de três grandes fatores, isolados ou combinados: capacidade acima da
média, alto envolvimento e criatividade.
Um mito bastante comum é o da redução das altas
habilidades ao campo intelectual, mas, as altas habilidades envolvem todas as potencialidades
e competências humanas, como as do campo artístico, comportamental e
psicomotor, de tal modo que, nesta abordagem mais ampla, o Ministério da
Educação indica que de 10% a 15% de qualquer população escolar apresenta altas
habilidades, nas diversas áreas. A
identificação é dificultada pelo processo de exclusão, quando os
alto-habilidosos, constrangidos pelo sistema educacional comum, passam a se
esconder e a simular que estão ajustados ao programa e projeto pedagógico.
A falta de assistência pode fazer com que o superdotado
nivele-se aos outros ao longo de seu desenvolvimento. Um exemplo que pode
ocorrer é o de alguém que tire notas menores ou não se esforce em estudar
apenas para ser aceito em seu grupo ou não ter fama de “CDF”. O jovem que não
tiver chance de desenvolver suas capacidades pode também se tornar um problema
para a instituição onde estuda e para a sociedade. “Ele pode se revoltar e ser
o anti-exemplo, que sempre vai expulso”, diz Maria Clara.
Criminosos como Fernandinho Beira-Mar e Marcola, diz a
doutora, podem ser exemplos claros de superdotados cujas potencialidades não
foram aproveitadas nas escolas. Ambos não chegariam à perfeição do crime se não
fossem brilhantes.
No fim da aula chegamos a um consenso de que é necessário
o envolvimentos de equipes multidisciplinares para orientar o aluno e a família
sobre a questão. O superdotado deve ser incluído por meio de atendimento
suplementar. Volto a dizer, com pessoas que entendem e são capacitadas para
lidar com esses alunos. Fica a dica.