"Sinceramente, não dá para engolir".
por Roney Moraes
Enquanto o Ministério da Agricultura estuda alterar os padrões de produção permitidos para a cerveja no Brasil, ao mesmo tempo, o país enfrenta grave crise e debate estratégias para combate às drogas ilícitas.
Todos os especialistas no assunto sabem que a porta de entrada para os entorpecentes começa na legalidade. Seja com o álcool ou cigarro. Em vez disso, o próprio governo atira no pé ao permitir a possibilidade do uso de alguns produtos na elaboração da cerveja, como leite, mel e chocolate, além de ingredientes como frutas, ervas, vegetais e flores.
O Ministério da Saúde quer tratar os dependentes, a justiça quer tolerância zero contra o álcool nas estradas e o da Agricultura quer dar mais atrativos à bebida. Sinceramente, não dá para engolir.
É claro que as indústrias têm interesse nisso, mas não é o caso agora, mesmo que a insinuação seja, no mínimo, intrigante. Porém, a atenção é para consulta pública. “O ministério pretende abrir o prazo de 60 dias da consulta ainda este mês. Depois desta etapa, o documento será submetido para análise do departamento jurídico do ministério”. Tudo isso para atrair novos consumidores. Quando digo “novos” quero dizer em todos os significados da palavra.
O ministério ainda não definiu se as alterações serão regulamentadas por decreto, instrução normativa ou projeto de lei. Só sei que do jeito que o cabo de guerra vai a corda arrebenta sempre para o lado mais fraco.
Se Obama fabrica cerveja com mel, que ele consuma na Casa Branca. Aqui, nos trópicos, no fundo do copo, ou poço, está cheio de doentes que precisam de tratamento. E olha que antes mesmo de aprovar a tal medida tem gente que mastiga abelha de tira-gosto e depois quer internar dependentes “com papo açucarado” à força de qualquer maneira.
Definitivamente a conta, por favor!
*Jornalista, psicanalista, professor e articulista membro da ACL.
