sábado, 7 de setembro de 2013

Meia hora para ser turista



“Curiosidade: instinto que leva alguns a olhar pelo buraco da fechadura, e outros a descobrir a América”, Eça de Queiroz

Um dia que prometia ficar no preto e branco, zero a zero. O sábado não era de sol, muito menos daria para alugar um caminhão e levar a galera para comer feijão. Mas, uma luz insistente desde sexta-feira trouxe Luiz Carlos Cardoso, Paulinha Garruth e Roberta Lopes com câmera e ação.  Pé na estrada e fomos “o quatrilho” para o 2º Festival de TV e Cinema Independente de Muqui.

Entre uma mesa de diálogos e outra tiramos fotos, passeamos como se estivéssemos em outro continente. Meio dia em Muqui! Entre os trilhos encontramos uma figura nativa que nos parou como turistas... Nem parece que a cidade fica cerca de trinta minutos do meu “imenso” Cachoeiro.

Seu Tutu, um senhor simpático, contou que a cidade tem três ruas. Ri, com ar de quem já sabia, pois atravesso o minúsculo município toda semana em direção a Mimoso do Sul, onde trabalho como terapeuta, mas não disse nada até ele contar uma curiosidade: “três ruas, sendo que duas com três nomes e uma com quatro”.

Seria uma forma de aumentar, mesmo que numa megalomania demográfica, o pequeno local histórico? Pensei. Nada disso, o costume multiplicador de vias era, de fato, simples capricho de quem possui mais de 200 construções tombadas.

Pronto, esqueci que estava a poucos minutos da minha casa e me comportei, por meia hora, como um verdadeiro turista. Queria ouvir a história e escutei... Dois nomes chegaram aos meus ouvidos como um telão cinematográfico: a Rua do Xixi e a dos Covardes!

- A Rua Luiz Carlos Monteiro, também conhecida como Rua da Feirinha é vulgarmente denominada a Rua do Xixi, porque os homens vão lá e a usam como banheiro público. É difícil passar mulher por ali!

Carpinejar que me perdoe, mas os homens de Muqui não mijam, fazem xixi. Mijar é para turistas que enfrentam filas intermináveis nos banheiros dos bares e restaurantes. Fazer xixi é tradição histórica.

Em cidade pequena tem dessas coisas... Geralmente todo mundo sabe da vida de todo mundo. Por isso apelidaram a Avenida Nossa Senhora das Graças, que faz o contorno da cidade, de Avenida das Palmeiras, dos Velhacos e, para o terror dos credores, de Rua dos Covardes. Quem deve na praça dá a volta (com trocadilho, por favor).

Antes do fim, nos despedimos, o pessoal foi fazer um lanche e voltamos ao Teatro, onde aconteciam as apresentações... O dia passou e nem vimos. Estávamos mesmo em outro lugar, longe, muito longe de qualquer vizinhança, mesmo a estrada sendo curta!