domingo, 26 de janeiro de 2014

A culpa é nossa



“A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota”, Jean-Paul Sartre.

Quando somos surpreendidos em situações desagradáveis culpamos os outros pelos nossos atos. Falhamos em reconhecer os próprios erros e as causas que nos levam a cometer pequenos gestos egoístas que podem culminar em tragédias de proporções inimagináveis. Sempre que deparamos com a violência, por exemplo, culpamos apenas quem aperta o gatilho, mas toda a sociedade tem sua parcela, mesmo que mínima, de culpa.

Somos culpados? Sim. Não respeitamos o outro. O desrespeito à vida se equivale ao calibre da arma usada nos quatro disparos efetuados contra um jovem no município de Mimoso do Sul. Digo que uma das motivações se deve ao individualismo (uma porcaria de ideologia que valoriza o indivíduo e negligencia a totalidade social) como no pensamento do sociólogo francês Louis Dumont.  

A sociedade, que mais parece um cego no tiroteio, finge não ser a responsável pela violência urbana, tendo esta a mais complexa das definições. Não compreende apenas os crimes, mas todo o efeito que provocam sobre as pessoas e as regras de convívio na cidade. Os tiros corroeram a vida das pessoas, não porque são solidárias, mas para preservarem-se.

Estamos sujeitos à violência o tempo todo, assim como somos “vítimas” das chuvas. Jogamos nosso “lixo” moral em qualquer lugar sem nos preocuparmos com a enxurrada de consequências. A tragédia é anunciada e nós contribuímos diretamente para que ela aconteça.

Não há nada novo. É sempre a mesmíssima coisa. O que antes estava presente nas grandes cidades, espalha-se para as menores. Os bandidos (ou aspirantes ao crime) procuram novos espaços. A segurança pública tem enorme dificuldade em conter a interiorização da violência. A pobreza, desigualdade social, baixa ou falta de acesso da população aos mecanismos de justiça, saúde e educação são os grandes “chefões” subjetivos propulsores da desorganização social. E esta organiza o crime.

Outro exemplo é que enquanto cantamos “Meu Pequeno Cachoeiro” o índice de criminalidade é enorme na própria terra do compositor Raul Sampaio e cidades circunvizinhas.  Estamos cansados. Mas a luta (pacífica) continua... Devemos atuar de maneira eficaz nas causas que levam o indivíduo a ser violento, sem esquecer a cobrança por justiça sobre os efeitos da violência.

Para nos redimirmos dessa culpa é preciso aliar políticas sociais que reduzam a vulnerabilidade não somente dos moradores das periferias, mas de todos, sobretudo dos jovens.  As intervenções sobre drogas, especificamente, são uma tarefa social. Uma operação conjunta. Não basta reprimir, mas também devemos prevenir, educar, curar (no sentido de cuidar da palavra).

É o cúmulo do absurdo achar que a violência não tem intimidade conosco. O que me deixa perplexo é a inércia alheia. Desculpe leitor, mas quem não faz nada é cúmplice. E a culpa de tudo isso é nossa.