segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

De braços abertos, mas... De mãos atadas



"A esperança é uma droga alucinógena",Rubem Alves.

O professor de Filosofia da Ufes, Maurício Abdala, provocou uma discussão interessante em uma das redes sociais. Segundo ele, um dos problemas humanos mais cruéis, que tem presenciado e, de certa forma, convivido observando o movimento nas ruas, é o dos usuários de crack. O "debate" foi baseado no programa “Operação Braços Abertos”, da prefeitura de São Paulo.

(A “Operação Braços Abertos”, como foi nomeada pela prefeitura, consiste em derrubar os barracos montados pelos dependentes químicos na rua Helvetia e alameda Dino Bueno e levar essas pessoas para hotéis do próprio centro de São Paulo. Além disso, os cerca de 300 dependentes químicos inseridos no programa terão direito a alimentação, emprego na zeladoria da cidade – principalmente limpeza pública – e R$ 15 por dia, além de duas horas de cursos de capacitação. As secretarias da Saúde, Trabalho, Assistência Social e Segurança Urbana são os responsáveis pela operação).

Creio que é um problema complexo e que todo esforço para humanizar o usuário é bem vindo. Tratá-lo como pessoa e não lixo é um passo importante para a recuperação da autoestima do indivíduo. Torço para que haja caso de sucesso e que possa ser exemplo em outros municípios, sabendo que muitos não compartilham do mesmo sentimento, como adversários políticos, partidos, críticos e até usuários.

O programa talvez não seja perfeito, mas já é exemplo pela abordagem. É a primeira vez na história que acontece uma operação na “Cracolândia” sem que haja força bruta. A única crítica (ou várias) que faço é sobre o acompanhamento. Há equipe multidisciplinar para acompanhar todo mundo? Psicólogos, assistentes sociais, conselheiros, psicanalistas, médicos e outros? De certa forma o programa “Braços Abertos” está de mãos atadas.

Um dos usuários, em reportagem para o Terra, fez duras críticas ao método da prefeitura e, de certa forma, tem razão. Não se pode tirar o dependente químico da rua, onde está sujeito a ter uma recaída praticamente certa, e colocá-lo em um hotel na mesma região, onde continuará a ter contato com os mesmos traficantes.

Em entrevista ao repórter Tiago Tufano, um usuário que há seis meses é morador do local, disse que existem dezenas de pessoas com um vasto histórico profissional e intelectual dentro da Cracolândia. E o trabalho de limpeza pública não “agrada” estes indivíduos. Ao pontuar a situação, penso que não será um único método que funcionará para todos. Há a parcela dos insatisfeitos e também dos que não querem abandonar a droga. Qualquer motivo é desculpa para continuar com o uso. Estes casos não terão os “Braços Abertos”.

Há outras formas de tratamento, a internação clínica é uma delas. Centros de acolhimentos e tratamentos ambulatoriais (Caps/AD, Creas e outros), além de Comunidades Terapêuticas, devidamente regularizadas, deveriam estender, ao menos, a mão para dar outras opções e ampliar, assim, o programa. O certo (acredito) que o dependente deve ter acompanhamento pelo resto da vida e os órgãos governamentais com seus projetos "milagrosos" (para não dizer políticos) estão começando a "ajoelhar" ainda... Falta "rezar", e muito!