sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

A formação do analista


"Ponham algo de si na psicanálise, não se identifiquem comigo. Tenham seu estilo próprio, pois eu tenho o meu", Jacques Lacan.

Theodor Reik, amigo de Sigmund Freud, foi acusado de charlatanismo por exercer a psicanálise sem ter diploma de medicina. Freud publicou então "A Questão da Análise Leiga", no qual defende que qualquer pessoa que tenha feito uma formação psicanalítica, e tenha sido submetida a uma análise própria, é apto para exercer a psicanálise.

Na carta a Pfister, Freud acrescentou ainda: “Não sei se o senhor adivinhou a ligação secreta entre "A Questão da Análise Leiga" e "O Futuro de uma Ilusão" (obra em que Freud descreve a religião como a neurose obsessiva universal da humanidade). Na primeira, quero proteger a psicanálise dos médicos; na segunda, dos sacerdotes. Quero entregá-la a uma categoria de curas de alma seculares, que não necessitam ser médicos e não podem ser sacerdotes.”

Em "A estranheza da psicanálise"(Zahar, p.550), Antonio Quinet ressalta que ensino da psicanálise deve ser pensado a partir da posição de sujeito dividido. Assim como o analisante que elabora o saber inconsciente em sua própria análise, o ensinante é um trabalhador cuja construção de saber é ordenada por aquilo que não sabe, mas interroga.

Portanto, conforme Quinet, na psicanálise não há um saber prévio a ser aplicado em todos os casos, é sempre um a um. Tampouco se transmite o ato psicanalítico, pois este é sempre uma criação particular, é impossível de ser generalizado e é muito mais vinculado à ética do que a técnica. 

Como Jacques Lacan, em relação a transmissão da psicanálise, não acredito que ela possa ser ensinada apenas em um estudo sistemático. O que está em jogo na análise por parte do analista é a capacidade em sustentar um lugar, algo que não é aprendido se não pelo clássico tripé da formação do analista: a análise pessoal do aspirante a terapeuta, o ensino teórico e a supervisão clínica.