”Não mais falarei muito convosco, pois o governante do mundo está
chegando. E ele não tem nenhum poder sobre mim", João 14,30.
Cansei de reclamações. Nas eleições de outubro vou votar em
Deus. Quero ver a oposição (salvos, ou condenados à danação eterna, os ateus) cair
de pau quando morrer alguém num posto de saúde ou um barranco deslizar sobre a
cabeça dos incrédulos. Mesmo com o risco do Ministério Público denunciar o Todo
Poderoso por nepotismo cruzado (Pai atuaria no Legislativo, o Filho no
Judiciário e o Espírito Santo no Executivo) tenho fé que vai dar tudo certo.
Deus é democrático. Podem blasfemar à vontade. Livre
arbítrio, meu chapa. Porém, o castigo vem só na outra vida. Pau de arara no
inferno para quem ousar dizer que a culpa de todos os problemas da humanidade é
Dele. Deus me livre! Já disse, tem o meu voto.
As leis de Deus farão com que o Estado deixe de ser laico. Um
"avanço" em termos de conduta moral que tanto se prega na cruz hoje
em dia. Muitos militantes vão querer instaurar o tribunal da inquisição, em
nome de Jesus. Este ocupará um cargo magnânimo no STF (Suprema Trindade
Fraternal).
Agora, cá entre nós... Haja poder para o Espírito Santo! Vai
ficar na ponta da lança. No coração do problema. Milagrosamente terá que agradar
gregos, troianos, gentios e gente chata. O próprio Jesus não conseguiu essa
façanha e trocou de cargo com Ele. O Pai deixou. De paráclito, o Espírito passaria
a ser o executor das promessas de campanha. Por exemplo, na Ação Social e
Cultura, a multiplicação dos pães, peixe e circo; na Saúde ressuscitar os mortos
e curar os enfermos; na Educação, concurso de parábolas e introdução das
línguas aramaica, grega e latina nas escolas públicas. Além, é óbvio, moradia
eterna com o programa "minha casa, minha vida" no bairro Paraíso.
Só tenho a ganhar com o voto divino. Seria o primeiro
governo comunista, de fato, da história. A primeira lei do novo testamento seria
pedir aos ricos para doarem seus bens aos pobres. Lembrem-se que se trata de um
governo, antes de tudo, democrático. A burguesia pode optar por permanecer com
seus tostões, depois é só acertar as contas no hades.
Creio que não perdi a razão ao ajudar, no pleito, uma
intervenção rumo ao governo teocrático. Se
a história do mundo é o plano da Providência, segundo Hegel, não serei eu o
apolítico. Termino o manifesto teocrático com o slogan da campanha: Vox populi,
vox Dei.