domingo, 9 de março de 2014

Outros carnavais




“A violência, seja qual for a maneira como ela se manifesta, é sempre uma derrota”, Jean-Paul Sartre.

Confesso que o carnaval já foi mais atraente, mas nossa relação ficou meio conturbada com tanta carnificina. Em tempo real, todos acompanharam pelas redes sociais as mortes que só aumentavam a cada dia de folia. Os feridos, incontáveis, quase passaram despercebidos. Este ano, dez mortes a mais em todo o Espírito Santo, um total de 31 assassinatos.

A psicanálise se interroga a respeito de novos sintomas e do mal-estar na atualidade. É possível que ela possa ajudar a alcançarmos algumas ideias sobre a questão da violência em nosso tempo, propondo mecanismos para sua compreensão por meio do inconsciente e da satisfação pulsional. Para isso, a contribuição de Lacan (em seu retorno a Freud) é importante. Sendo assim, a violência é um gozo, um excesso, um impulso que ultrapassa a agressividade que teríamos em caso de defesa.

Mas como nos defendermos deste mecanismo de defesa do ato de um gozo sem limites? Primeiro temos que nos conscientizar que não se trata de um “momento” eufórico explosivo. Conforme dados levantados pelo Sindipol, o estado vem conquistando posições negativas de destaque em rankings nacionais.

Entre os jovens que as taxas de homicídios do estado escandalizam pelos índices, que mostram uma violência epidêmica que beira o extermínio. Também na faixa etária entre 15 e 24 anos, o Espírito Santo é o segundo estado mais violento, atrás também de Alagoas.

Os dados revelados nos estudos trazem informações importantes para uma profunda reflexão. A responsabilidade, como já disseram, pode até cair no colo dos governantes, mas a culpa é de todos. De uma sociedade amedrontada com tamanha violência que a rodeia. E o medo alimenta tal comportamento.

Não há proibição suficiente para impedir tais episódios brutais, uma vez que, para a Psicanálise, a própria lei (que proíbe a violência) tem suas origens nos interesses violentos de um grupo de indivíduos. A respeito da lei, Freud diz: “Estaremos fazendo um cálculo errado se desprezarmos o fato de que a lei, originalmente, era força bruta e que, mesmo hoje, não pode prescindir do apoio da violência” (Freud, 1933[1932] / 1980, p. 251).

Se é que tem um jeito para diminuir estes índices, a solução seria um planejamento adequado. Não de cima para baixo, mas com toda a sociedade. O estado (governo) é responsável pela segurança, mas respeitá-la (que são outros carnavais) é papel de todos. Só por meio do conhecimento e não da repressão se pode vislumbrar tal possível solução. A maioria vai preferir bem de longe, se possível, no camarote.