“Ai de ti, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é
chegada a véspera do teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as
entranhas”, Rubem Braga.
A literatura, como
alguns autores afirmam, é uma necessidade universal. Ela tem o poder de
organizar a visão de mundo do leitor, ordenando a nossa mente e, até mesmo, os
nossos sentimentos. Desse modo, a literatura é tida como objeto que molda as
ideias do cotidiano e faz com que a realidade seja filtrada e, por isso, é
crítica e também reflexiva.
Para abordar o tema
"Formação e Exposição do Pensamento Crítico na Literatura", no
auditório Marco Antônio de Carvalho, na V Bienal Rubem Braga, com os convidados
mais do que especiais (a filósofa Márcia Tiburi e o crítico literário Paulo
Franchetti) é necessário entender que o conhecimento obtido por meio da
leitura estimula o pensamento e
desenvolve o raciocínio, ampliando a visão de mundo do leitor.
Vejamos Rubem Braga em "Ai de ti, Copacabana". Num
texto (publicado em 1958) carregado de imagens bíblicas e mitológicas, prevê
que o apocalipse se abaterá sobre o bairro carioca.
Copacabana seria uma pessoa pecadora e, por isso, Deus a
castigaria. A culpa? Transcrita em prosa
é da vaidade, especulação imobiliária... (Os ricos moradores que "dormem
em leitos de pau-marfim nas câmaras refrigeradas" para tentar fugir do
calor do verão, os playboys que "passam em seus cadilaques buzinando
alto", as donzelas que se "estendem na praia e passam no corpo óleos
odoríferos para tostar a tez", os mancebos que "fazem das lambretas
instrumentos de concupiscência"), dos idólatras (os fariseus que rezam nas
igrejas de dia e jogam flores para Iemanjá à noite).
Conforme o jornalista Guilherme Amado, em seu texto "A
Copacabana caótica de Rubem Braga", o cronista utiliza a literatura para
criticar um modo de vida que havia chegado para ficar, produto da modernidade.
"A multidão de pecados a que Rubem Braga alude em sua
crônica, numa visão pra lá de apocalíptica, foi o que despertou a ira divina.
Já nas primeiras linhas, fica bem claro quão profunda é essa fúria",
descreve Guilherme.
A literatura deve fazer
parte da vida de cada um, pois sai da abstração do autor e se transfere para a
realidade sensível e concreta cotidiana das pessoas. Ela também é responsável
pelo enriquecimento
intelectual e cultural, uma vez que dissemina o saber.