sexta-feira, 18 de abril de 2014

Formação do pensamento crítico na literatura




“Ai de ti, Copacabana, porque eu já fiz o sinal bem claro de que é chegada a véspera do teu dia, e tu não viste; porém minha voz te abalará até as entranhas”, Rubem Braga.

A literatura, como alguns autores afirmam, é uma necessidade universal. Ela tem o poder de organizar a visão de mundo do leitor, ordenando a nossa mente e, até mesmo, os nossos sentimentos. Desse modo, a literatura é tida como objeto que molda as ideias do cotidiano e faz com que a realidade seja filtrada e, por isso, é crítica e também reflexiva.

Para abordar o tema "Formação e Exposição do Pensamento Crítico na Literatura", no auditório Marco Antônio de Carvalho, na V Bienal Rubem Braga, com os convidados mais do que especiais (a filósofa Márcia Tiburi e o crítico literário Paulo Franchetti) é necessário entender que o conhecimento obtido por meio da leitura  estimula o pensamento e desenvolve o raciocínio, ampliando a visão de mundo do leitor.

Vejamos Rubem Braga em "Ai de ti, Copacabana". Num texto (publicado em 1958) carregado de imagens bíblicas e mitológicas, prevê que o apocalipse se abaterá sobre o bairro carioca.

Copacabana seria uma pessoa pecadora e, por isso, Deus a castigaria.  A culpa? Transcrita em prosa é da vaidade, especulação imobiliária... (Os ricos moradores que "dormem em leitos de pau-marfim nas câmaras refrigeradas" para tentar fugir do calor do verão, os playboys que "passam em seus cadilaques buzinando alto", as donzelas que se "estendem na praia e passam no corpo óleos odoríferos para tostar a tez", os mancebos que "fazem das lambretas instrumentos de concupiscência"), dos idólatras (os fariseus que rezam nas igrejas de dia e jogam flores para Iemanjá à noite).

Conforme o jornalista Guilherme Amado, em seu texto "A Copacabana caótica de Rubem Braga", o cronista utiliza a literatura para criticar um modo de vida que havia chegado para ficar, produto da modernidade.

"A multidão de pecados a que Rubem Braga alude em sua crônica, numa visão pra lá de apocalíptica, foi o que despertou a ira divina. Já nas primeiras linhas, fica bem claro quão profunda é essa fúria", descreve Guilherme.

A literatura deve fazer parte da vida de cada um, pois sai da abstração do autor e se transfere para a realidade sensível e concreta cotidiana das pessoas. Ela também é responsável
pelo enriquecimento intelectual e cultural, uma vez que dissemina o saber.