“Há um meio certo de
começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado
Calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou
simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos
atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre
a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está
começada a crônica”, Machado de Assis - “O nascimento da Crônica”.
O que é crônica? Se tirarmos por base a maioria dos textos
de Rubem Braga veremos que o que se produz e é publicado foge aos padrões do
que seria exatamente este gênero ambíguo (no sentido de que é literário e, ao
mesmo tempo, não literário). Porém, numa opinião rudimentar prefiro os novos
textos ou o que quer que sejam.
A nova prosa é lírica. Fala de sentimentos. Esbarra no
universal, mesmo saindo de dentro de uma subjetividade. De um desabafo interno.
Dependendo de quem escreve, o leitor é envolvido. Parece até que alguns são
brados, catarses individuais, mesmo assim conquistam o leitor pela empatia e,
quem sabe, uma cumplicidade inconsciente.
Tenho meus preferidos. São escritores que utilizam as novas
ferramentas para publicação disponíveis na internet. Alguns são tão profundos
que desnudam a alma do escritor em poucas palavras.
Seria a função da nova “literatura” promover um desacordo
afetivo no intuito de desconstruir a realidade opressora? Gosto do texto que
inquieta, sem medo de transgredir. Que é transcendente. O que é bom deve
desmistificar psicologicamente o mundo de forma radical.
Então, em homenagem às novas protagonistas da palavra, encerro o artigo (não é crônica) com o trecho de “Os bastidores da crônica”, de
Marta Medeiros:
“Alguns você comove, outros revolve o estômago. Se cita um
caso que aconteceu com você, é porque está focada no próprio umbigo. Se cita um
caso que aconteceu com alguém, não tem originalidade suficiente. Se inventa um
caso que não aconteceu mas poderia, está fazendo ficção onde não devia. (...) Falou
bem do PT? Rendida, vendida, mal-intencionada. Falou mal do PT? Rendida,
vendida, mal-intencionada. Não falou de política? Alienada. (...) O mesmo texto
tudo provoca: uns te amam, outros te toleram e alguns não perdem a chance de te
esculachar. Como te leem os que te odeiam”.