"Há momentos na vida em que algo parece nos
dar a chave da felicidade, mas troca a fechadura antes que consigamos abrir a porta",
Ivo das Chagas Filho
Colecionar, trocar e colar as figurinhas da Copa do Mundo é velha/nova
mania nacional. Acontece em toda competição. Pais torcedores presenteiam seus
filhos com os álbuns e juntos vão à caça. De banca em banca. À procura das
figuras que faltam para completar a coleção. Já vimos antes, mas agora é
diferente. Por vários motivos.
Primeiro pelo fato da Copa do Mundo acontecer no Brasil. É
comum encontrarmos, nos fins de semana, principalmente, bancas abarrotadas e
famílias inteiras organizando escambo de figurinhas. Já até impregnaram valor aos
cromos. Por exemplo, um do Neymar vale dez de qualquer outro jogador.
Outro fator interessante e diferente das edições anteriores
dos álbuns é que a internet proporcionou um acréscimo na partida. Muitos marcam
encontros, via redes sociais, para trocarem figurinhas e, por isso, completar o
álbum só não é mais fácil porque a procura é maior do que a oferta. Encontrar pacotinhos
para comprar nas bancas nos fins de semana é quase como achar agulha no
palheiro.
Além das redes sociais, há a novidade do álbum online. Já
existe um aplicativo grátis que permite
trocar figurinhas virtuais com torcedores de todo o mundo. Também é possível
criar grupos de colecionadores, abrir pacotes, e trocar e colar as figurinhas
virtuais. O aplicativo é integrado à versão web do álbum e está disponível para
Android e iPhone.
O grupo "Álbum de Figurinhas da Copa do Mundo" no
Facebook, que já reúne mais de 14 mil participantes e dezenas de endereços com
pontos de encontro para trocas no Brasil todo, até recomenda conduta na hora
das trocas.
Para o psicanalista Carlos Magno Perin, há uma analogia
entre coleção de cromos e a coleção de emoções. Imaginar que as emoções sejam
como “figurinhas” que se colecionam é útil para compreender melhor como as
carícias ativam nossas emoções e como essas emoções são colecionadas e agem
sobre a pessoa.
"Todos nós colecionamos emoções preferidas. Alguns
colecionam emoções positivas (bondade, alegria, gratidão, amor). Outros
colecionam emoções negativas (vergonha, medo, inveja, raiva, orgulho,
ressentimento, culpa)", diz Perin no artigo Psicanálise - Coleções de
Figurinhas (1).
A tecnologia, com todo seu arsenal, não se compara ao
encontro pessoal. Ao prazer de abrir o pacote e encontrar as que faltam, sem
falar na troca tête-à-tête e ver, no rosto de uma criança ou adulto, o preenchimento
da lacuna no livro ilustrado. Do que antes estava vazio.
roneyamoraes.blogspot.com