segunda-feira, 23 de junho de 2014

A Copa e a massa



"O indivíduo num grupo está sujeito, através da influência deste, ao que com frequência constitui uma profunda alteração na sua atividade mental. A sua submissão à emoção torna-se extraordinariamente intensificada, enquanto que a sua capacidade intelectual é acentuadamente reduzida (...)”, Freud.

A psicologia das massas ajuda a explicar manifestações no Brasil e que insistentemente tentam chamar atenção na Copa do Mundo.  O problema é que, na maioria dos casos, descambam para violência e vandalismo. Quando uma multidão se junta, por qualquer motivo, o comportamento das pessoas deixa de ser individual. Passa a ser um só com o todo, como se fosse uma entidade se comportando: a massa.

Levado na onda da multidão, o indivíduo diminui seus freios e ganha coragem. Como a responsabilidade e irresponsabilidade são divididas, o sujeito comete atos que talvez não faria se estivesse sozinho.
Isso não significa que seja um comportamento justificável. Os atos da massa, aliás, nem sempre são negativos. Marchas pacíficas pelos direitos e por melhores condições de vida, educação, saúde e segurança são exemplos disso.

Alguns teóricos dizem que esse comportamento nunca é totalmente irracional. Há um ponto de partida, porém a massa, então, e os indivíduos que a compõem – ao perder as suas características superiores –, passa a apresentar as qualidades mais ordinárias, medíocres ou primitivas já encontradas no indivíduo, qualidades regidas pelo inconsciente.

“A personalidade consciente desfalece, os sentimentos e as ideias de todas as unidades (indivíduos) são orientadas na mesma direção. Forma-se uma alma coletiva, transitória sem dúvida, mas apresentando características bem nítidas”, Gustave Le Bon.

Agora, uma situação interessante. A paixão é um dos combustíveis para a multidão. O que ocorre hoje é justamente o inverso da inflamação. As reivindicações que foram levadas às ruas das cidades brasileiras no ano passado não foram esquecidas, continuaram, mas perderam força.

Na Copa do Mundo os atos de protestos não têm surtido o mesmo efeito. Os manifestantes conscientes, que usurpam a ingenuidade daqueles que os acompanham, não esperavam por isso.  Poucas centenas de pessoas têm participado dos protestos, que ocorrem simultaneamente aos jogos.


O brasileiro prefere cantar o hino nacional, ao menos a primeira parte, em casa ou no estádio do que depredar patrimônio público. Esta é a dimensão do sentimento coletivo momentâneo no país. O resto é manobra isolada e sem efeito social.