"A arte de viver é simplesmente a arte de conviver...
simplesmente, disse eu? Mas como é difícil!". Mario Quintana.
Desde que nascemos as perdas fazem parte de nossa vida.
Elas têm influência direta na formação da blindagem do caráter humano. A função
de uma armadura é proteger quem a usa de ações violentas externas, e com a
mente não é diferente.
A defesa, se for compensadora, com o passar do tempo,
torna-se um hábito que vai moldar os atos do indivíduo. Quando enfrentamos uma
dor psíquica caímos nos braços consoladores desses "escudos". Fazemos isso o tempo todo e desde sempre. Estabelecemos
limites para a área de ação dos nossos sentimentos e pensamentos. Reprimimos
nossa liberdade de percepção e de ação para ficarmos em paz.
Aprendemos, com a experiência, novas formas de blindar a
passagem das várias perdas que sofremos no decorrer de nossas vidas. Os
recomeços, na verdade, são velhas armaduras com polimento novo. Maneiras que
encontramos de aprender e, sobretudo, tentar descobrir novas alternativas para
enfrentar uma situação de dor.
O psicanalista Wilhelm Reich resignificou o conceito de
armadura defensiva. A expressão criada por ele foi “armadura do caráter”, o
escudo do "self" para que possa manter afastadas as ansiedades, no
seu caminho pelo mundo ameaçador. O caráter veste a armadura sob a forma das
defesas habituais. “Na vida diária”, diz Reich, “o caráter desempenha um papel
semelhante ao que desempenha na resistência ao tratamento. O papel de aparato
de defesa psíquica".
O estilo defensivo é a armadura do caráter. Emest Becker (antropólogo
cultural, escritor e estudioso da interdisciplinaridade científica), na obra A
Negação da Morte, vai dizer que “na realidade se refere a todo o estilo de vida
assumido pela pessoa para viver e agir com certa segurança. Nós todos temos
alguma, porque todos nós precisamos organizar a nossa personalidade..."
Para o escritor, psicólogo e jornalista, Daniel Goleman, da necessidade
de aliviar o impacto da informação ameaçadora surgem essas estratégias para
continuar a vida.
Estamos na defensiva o tempo todo, no entanto, algumas
situações ultrapassam as barreiras e nos provocam dores incalculáveis. O fim
deste sentimento, para alguns, será como o de tantos outros. Ele será forjado
no muro invisível e reforçará a barreira que criamos com o mundo.
Conhecer nossas defesas e como elas são formadas pode ajudar
o indivíduo a sair um pouco da condição de guarda para enfrentar a situação,
afinal qual dia não é um desafio? Charles Chaplin disse uma vez que "a
vida é maravilhosa se não se tem medo dela".