terça-feira, 28 de abril de 2015

Sem arte não há psicanálise


 "Seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta já passou por ele antes de mim", Freud.

Na próxima semana comemoramos o Dia do Psicanalista. Entusiasmado com a proximidade da data, e por agenda lotada, me deparo com a situação lamentável que vivem hoje os artistas capixabas. Estão acampados na Secretaria de Estado de Cultura (Secult) lutando contra o corte dos recursos destinados aos editais da cultura.

Sem tempo para uma reunião institucional, manifesto minha opinião sobre a tentativa de homicídio praticada pelo governo estadual a todos que vivem pela arte. Mas o que um analista tem a ver com isso? Ora, pois o próprio Freud, “pai da psicanálise” disse: "seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta já passou por ele antes de mim".

A relação da psicanálise com as artes em geral é intima. E, por isso, sentimentos revoltosos e de indignação são compreensíveis. Confesso que neste exato momento muitas coisas passam pela minha cabeça e, com certeza, uma delas é vontade de gritar. Acontece que poucos vão ouvir. Ou quase ninguém.

Os deputados. Estes que deveriam fiscalizar as megalomanias executivas vestiram a carapuça masoquista. Escolhem pessoas e situações que levam ao desapontamento, fracasso, ou maus-tratos, mesmo quando melhores opções estão claramente disponíveis. Por isso, meu manifesto. Insisto em dizer que sem arte não há psicanálise.

Em relação à arte, para ter uma ideia, no próximo dia 07 de maio estreia nos cinemas de São Paulo e do Rio de Janeiro, o documentário “De Gravata e Unha Vermelha”, dirigido por Mirian Chnaiderman. O longa recebeu o prêmio de melhor documentário no Festival do Rio de 2014 e também foi exibido no Festival É Tudo Verdade no mesmo ano.

 “Uma psicanalista que faz cinema”, assim Miriam Chnai¬der¬man se define. O prazer nos estudos de filosofia, psicologia e psicanálise, o gosto pela literatura, música, cinema – as artes em geral – marcam sua trajetória intelectual, na qual se destacam o mestrado em literatura e psicanálise e o doutorado em teatro – é doutora em artes pela Escola de Comunicação e Artes da USP –, e o pós-doutorado no Laboratório de Psicopatologia Fundamental da PUC.

No primeiro Encontro Literário Paraense da XIX Feira Pan Amazônica do Livro, programada para o período de 29 de maio a 07 de junho, no Hangar, terá como tema “Poesia Feminina”. Uma das escritoras convidadas para abordar o assunto é poetisa, escritora, psicanalista e psiquiatra, Luciana Brandão Carreira.

Luciana, além de Doutora em Psicanálise pela UERJ /sanduíche Université Paris XIII, professora da Uepa e supervisora clínica do Ambulatório de Saúde Mental do Cesupa, é autora dos livros “Entre” (Verve, 2014) e “Os tempos da escrita na obra de Clarice Lispector – no litoral entre a literatura e a psicanálise’” (Cia de Freud, 2014) e também componente do núcleo editorial da Revista Polichinello, trabalha, em suas pesquisas, na interface entre arte e psicanálise, tendo como principais referências as obras de Sigmund Freud e de Jacques Lacan.Luciana Brandão Carreira, que vão contextualizar o assunto no cenário paraense.

Enquanto isso, no Espírito Santo, vemos com tristeza as políticas públicas para a cultura entrarem pelo cano. Contudo, se depender dos artistas, estudantes, profissionais liberais, ativistas e muitos amantes da arte... O espetáculo não para. Jamais!

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Roney Argeu Moraes – Doutor (Dr.h.c) em Teoria Psicanalítica pelo Inape. Presidente da Associação Psicanalítica do Estado do Espírito Santo (Apees). Membro da equipe técnica da Casa Reviver, do Sindicato dos Psicanalistas do Espírito Santo (Sindpes) e da Academia Cachoeirense de Letras (ACL).