"Seja qual for o caminho que eu escolher, um poeta já passou por ele antes de mim", Freud.
Na próxima semana comemoramos o Dia do Psicanalista. Entusiasmado
com a proximidade da data, e por agenda lotada, me deparo com a situação
lamentável que vivem hoje os artistas capixabas. Estão acampados na Secretaria
de Estado de Cultura (Secult) lutando contra o corte dos recursos destinados
aos editais da cultura.
Sem tempo para uma reunião institucional, manifesto minha opinião
sobre a tentativa de homicídio praticada pelo governo estadual a todos que
vivem pela arte. Mas o que um analista tem a ver com isso? Ora, pois o próprio
Freud, “pai da psicanálise” disse: "seja qual for o caminho que eu
escolher, um poeta já passou por ele antes de mim".
A relação da psicanálise com as artes em geral é intima. E,
por isso, sentimentos revoltosos e de indignação são compreensíveis. Confesso
que neste exato momento muitas coisas passam pela minha cabeça e, com certeza,
uma delas é vontade de gritar. Acontece que poucos vão ouvir. Ou quase ninguém.
Os deputados. Estes que deveriam fiscalizar as megalomanias
executivas vestiram a carapuça masoquista. Escolhem pessoas e situações que
levam ao desapontamento, fracasso, ou maus-tratos, mesmo quando melhores opções
estão claramente disponíveis. Por isso, meu manifesto. Insisto em dizer que sem
arte não há psicanálise.
Em relação à arte, para ter uma ideia, no próximo dia 07 de
maio estreia nos cinemas de São Paulo e do Rio de Janeiro, o documentário “De
Gravata e Unha Vermelha”, dirigido por Mirian Chnaiderman. O longa recebeu o
prêmio de melhor documentário no Festival do Rio de 2014 e também foi exibido no
Festival É Tudo Verdade no mesmo ano.
“Uma psicanalista que
faz cinema”, assim Miriam Chnai¬der¬man se define. O prazer nos estudos de
filosofia, psicologia e psicanálise, o gosto pela literatura, música, cinema –
as artes em geral – marcam sua trajetória intelectual, na qual se destacam o
mestrado em literatura e psicanálise e o doutorado em teatro – é doutora em
artes pela Escola de Comunicação e Artes da USP –, e o pós-doutorado no
Laboratório de Psicopatologia Fundamental da PUC.
No primeiro Encontro Literário Paraense da XIX Feira Pan
Amazônica do Livro, programada para o período de 29 de maio a 07 de junho, no
Hangar, terá como tema “Poesia Feminina”. Uma das escritoras convidadas para
abordar o assunto é poetisa, escritora, psicanalista e psiquiatra, Luciana
Brandão Carreira.
Luciana, além de Doutora em Psicanálise pela UERJ /sanduíche
Université Paris XIII, professora da Uepa e supervisora clínica do Ambulatório
de Saúde Mental do Cesupa, é autora dos livros “Entre” (Verve, 2014) e “Os
tempos da escrita na obra de Clarice Lispector – no litoral entre a literatura
e a psicanálise’” (Cia de Freud, 2014) e também componente do núcleo editorial
da Revista Polichinello, trabalha, em suas pesquisas, na interface entre arte e
psicanálise, tendo como principais referências as obras de Sigmund Freud e de
Jacques Lacan.Luciana Brandão Carreira, que vão contextualizar o assunto no
cenário paraense.
Enquanto isso, no Espírito Santo, vemos com tristeza as políticas
públicas para a cultura entrarem pelo cano. Contudo, se depender dos artistas, estudantes,
profissionais liberais, ativistas e muitos amantes da arte... O espetáculo não
para. Jamais!
Roney Argeu Moraes – Doutor (Dr.h.c) em Teoria Psicanalítica pelo
Inape. Presidente da Associação Psicanalítica do Estado do Espírito Santo
(Apees). Membro da equipe técnica da Casa Reviver, do Sindicato dos
Psicanalistas do Espírito Santo (Sindpes) e da Academia Cachoeirense de Letras
(ACL).