terça-feira, 15 de setembro de 2015

Macacos me mordam



“É bom lembrar que devemos ter cuidado num mundo multifacetado, multicultural e multidiverso. Por isso, não podemos nos fechar em grupos exclusivos – só católicos, só gays, só muçulmanos -, o que leva à política do gueto e dilui a ideia de humanidade”, Mario Sergio Cortella.

Encontrei, em minhas navegações, a melhor definição para o título. “Macacos me mordam” seria um termo de origem desconhecida, mas há a hipótese que passou a ser a tradução tosca da expressão inglesa "Well, blow me down" (Bem, funda-me para baixo) dita pelo marinheiro Popeye. E isso não tem nada a ver com a espinafrada que as minorias sofrem diariamente.

Os seres humanos são animais amorosos embora tenham esquecido. Em tempos de “crise”, morder e atacar os que consideram diferentes é a nova guerra do fogo. Teríamos regredido na cadeia evolutiva? 

A descoberta do Homo Naled pode ter algo a ver com tudo isso, afinal, a nova espécie possui cérebro do tamanho de uma laranja, igual a do “homo stultus” (estúpido) encontrado aos montes em pleno século XXI. Já que a idade dos fósseis do Homo Naled ainda não foi comprovada, tem muito primo de orangotango hoje com bagaço na cabeça.

Os movimentos, feministas, de gays e lésbicas ou antirracistas, foram responsáveis pela garantia do debate com intuito de reduzir a marginalização destas minorias pela parte moralista da população. Embora um animal, raras as vezes, racional, o homem é um símio medroso, pois, já dizia o filósofo Mario Sergio Cortella, todo preconceituoso é covarde.  

Em artigo publicado na Boitempo, Flávia Biroli, professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, ressalta que a violência, principalmente contra a população homossexual, se ancora no entendimento de que existem formas corretas de amar.

Como se o afeto fosse algo controlável e dogmatizado. Ao contrário, o afeto não é fossilizado. Liberdade, para Spinoza, é a capacidade de compreender a razão pela qual nossas paixões são produzidas.

A ignorância e a superstição, em contrapartida, nos mantém escravos da ordem da natureza e o mal-estar da civilização é a intolerância e o discurso ignorante. Na realidade, a retórica da heterossexualidade peca na unificação do que não é uno.

É claro que tudo que é novidade e diferente é visto com temor pela sociedade, dificultando a evolução e o crescimento cultural de um povo.  Acontece que tapamos o sol com a peneira há milênios.

A questão da homossexualidade deve ser tratada como qualquer outra. Até porque, a diversidade humana supera o delírio de homogeneidade. As uniões (sejam homoafetivas ou não) estão relacionadas, pela condição heterogênea da espécie humana, mais com os aspectos sociais do que psíquicos.  

Freud,em 1935, em resposta a preocupação de uma mãe, deixa clara sua visão de que a homossexualidade não é doença:

“Muitos indivíduos altamente respeitáveis ​​de tempos antigos e modernos eram homossexuais, vários dos maiores homens entre eles. (Platão, Michelangelo, Leonardo da Vinci, etc). É uma grande injustiça perseguir a homossexualidade como crime - e crueldade também”.

A crueldade é coisa de quem é mentalmente incapaz de sentir algo pelo outro ou sente prazer com sofrimento alheio. Infelizmente, a maldade, seu sinônimo, é comum nos animais bípedes doentes, intolerantes e puritanos.