Toda mudança causa sofrimento, mas, a partir daí que o “milagre” acontece
Para quem acompanhou de perto todas as edições da Bienal
Rubem Braga, a IV edição de 2012 não foi diferente. Pela primeira vez apresentando
a “borboleta” como temática, a IV Bienal Rubem Braga causou o seu efeito. Acompanhada
do mascote Zig, esta Bienal foi inspirada na crônica “A Borboleta Amarela”
escrita em 1955.
Toda a programação aconteceu na Praça Jerônimo Monteiro,
como na edição anterior, de 15 a 20 de maio de 2012. Neste ano, dei uma oficina
sobre “Leitura e Literatura”. Foi uma experiência única e com a sala
aconchegada de amigos.
O tema simbólico, que desde então acompanha as edições
posteriores, “borboleta” reflete a transformação, metamorfose, metanóia (num
sentido mais profundo de mudança). O que estamos fazendo para divulgar a
cultura em nosso município e assim transformar a vida de inúmeros adolescentes
que sequer têm interesse pela leitura, dita popular, que para a maioria deles é
erudita? Poderíamos utilizar a Bienal para nos questionarmos quanto à mudança
em nós mesmos?
Encontrar o fator primordial dessa mudança não é assim tão
simples, mas já sabemos o resultado. A recompensa é grande e a contribuição
para a formação de jovens pensantes apenas com um simples ato de começar a
pensar no assunto ou ler uma crônica é inegável. A lagarta sofre. Toda mudança
causa sofrimento, mas, a partir daí que o “milagre” acontece. O próprio ser
transformado deve quebrar as barreiras que impedem o seu resplendor. Arrebentar
o casulo com as asas as torna fortes o suficiente para voar e sobreviver as
tempestades que encontrará no percurso de sua vida.
De um prisma humano, diria que se tornar borboleta é buscar
a resiliência (termo da física que significa a capacidade de superação, tirando
proveito dos sofrimentos, inerentes às dificuldades). A Bienal rompeu as
barreiras da erudição e fez os mais humildes perceberem que o texto de Rubem
Braga foi, é, e sempre será popular, apesar de seu sincronismo entre o
cotidiano, a literatura e o viés poético.
Ela é sincrônica no sentido de que traduz uma
simultaneidade, ou uma síntese não só atemporal, como espacial. A crônica não
está mais ligada apenas aos fatos do cotidiano. Por exemplo, Luiz Fernando
Veríssimo de repente fala do século IXX e não está mais ligado a um só espaço
ou a uma cidade, mas a vários lugares.
Antes, a crônica era considerada um gênero produzido
essencialmente para ser veiculado na imprensa. Hoje, especialistas concordam
que ela é plural porque tem várias formas, apesar de perseguir aqueles modelos
estabelecidos por Machado de Assis, Rubem Braga, Carlos Drumond Andrade e
outros. Por isso, sem querer deixar o Zig com água na boca, escrever crônicas,
para muitos, são os ossos do ofício. Está aí a transformação do pensamento em
ação. Da mente para a escrita.