sexta-feira, 29 de abril de 2016

Outras bienais (IV): do ponto de vista simbólico



Toda mudança causa sofrimento, mas, a partir daí que o “milagre” acontece

Para quem acompanhou de perto todas as edições da Bienal Rubem Braga, a IV edição de 2012 não foi diferente. Pela primeira vez apresentando a “borboleta” como temática, a IV Bienal Rubem Braga causou o seu efeito. Acompanhada do mascote Zig, esta Bienal foi inspirada na crônica “A Borboleta Amarela” escrita em 1955.

Toda a programação aconteceu na Praça Jerônimo Monteiro, como na edição anterior, de 15 a 20 de maio de 2012. Neste ano, dei uma oficina sobre “Leitura e Literatura”. Foi uma experiência única e com a sala aconchegada de amigos.

O tema simbólico, que desde então acompanha as edições posteriores, “borboleta” reflete a transformação, metamorfose, metanóia (num sentido mais profundo de mudança). O que estamos fazendo para divulgar a cultura em nosso município e assim transformar a vida de inúmeros adolescentes que sequer têm interesse pela leitura, dita popular, que para a maioria deles é erudita? Poderíamos utilizar a Bienal para nos questionarmos quanto à mudança em nós mesmos?

Encontrar o fator primordial dessa mudança não é assim tão simples, mas já sabemos o resultado. A recompensa é grande e a contribuição para a formação de jovens pensantes apenas com um simples ato de começar a pensar no assunto ou ler uma crônica é inegável. A lagarta sofre. Toda mudança causa sofrimento, mas, a partir daí que o “milagre” acontece. O próprio ser transformado deve quebrar as barreiras que impedem o seu resplendor. Arrebentar o casulo com as asas as torna fortes o suficiente para voar e sobreviver as tempestades que encontrará no percurso de sua vida.

De um prisma humano, diria que se tornar borboleta é buscar a resiliência (termo da física que significa a capacidade de superação, tirando proveito dos sofrimentos, inerentes às dificuldades). A Bienal rompeu as barreiras da erudição e fez os mais humildes perceberem que o texto de Rubem Braga foi, é, e sempre será popular, apesar de seu sincronismo entre o cotidiano, a literatura e o viés poético.

Ela é sincrônica no sentido de que traduz uma simultaneidade, ou uma síntese não só atemporal, como espacial. A crônica não está mais ligada apenas aos fatos do cotidiano. Por exemplo, Luiz Fernando Veríssimo de repente fala do século IXX e não está mais ligado a um só espaço ou a uma cidade, mas a vários lugares.

Antes, a crônica era considerada um gênero produzido essencialmente para ser veiculado na imprensa. Hoje, especialistas concordam que ela é plural porque tem várias formas, apesar de perseguir aqueles modelos estabelecidos por Machado de Assis, Rubem Braga, Carlos Drumond Andrade e outros. Por isso, sem querer deixar o Zig com água na boca, escrever crônicas, para muitos, são os ossos do ofício. Está aí a transformação do pensamento em ação. Da mente para a escrita.