quinta-feira, 12 de maio de 2016

No limite: entre o mercado da corrupção e o delírio


Enquanto isso, no lado de cá, a histeria é coletiva. 

O limite da política hoje está em dois afetos: o medo e a esperança. Esses afetos, bloqueadores, se organizam por uma relação com o tempo e com uma expectativa de um mal ou de um bem por vir. Esta é a abertura do debate “Afeto, Psicanálise e Política” entre o filósofo Vladimir Safatle e a psicanalista Maria Rita Kehl.

O programa, atual, foi ao ar na TV Cultura em setembro de 2015. A psicanalista analisou a ideia de esperança a partir de algumas possibilidades. Uma delas, quando constitui a imagem do que se espera e isso aliena o indivíduo e anula a sua potência de ação.

“A política se tornou um lugar onde você compra o candidato melhor”.

Mas, diante da situação atual, há impasses: como consumir algo que você não comprou? Em outras palavras, se a moeda de troca é o voto não há um desejo envolvido entre o consumidor (eleitor) e o produto (político) no escambo eleitoral? Devemos considerar a hipótese de levar um produto forçado?

Há interesse de que mesmo sem desejo (Eros) o sujeito (eleitor) demonstre certa satisfação. Mesmo que não reconheçam que isso seja necessário.

Neste caso, o gato vestiu as orelhas da lebre na esperança de que um dia seja aceito como tal. Ou melhor, “o porco no saco”, como a expressão na Europa é utilizada, ficou no planalto.

Enquanto isso, no lado de cá, a histeria é coletiva. 

“Quando o afeto paterno é procurado em figuras de líderes políticos autoritários e corruptos, como reclamar daquele que abusa do poder, mas estende a mão e protege?” 

A inquietação da especialista em corrupção e patologia social, Denise Ramos, nos faz refletir. O brasileiro naturaliza, incorpora a corrupção. É uma doença psicossocial.


No imaginário popular, como num passe de mágica, todos os problemas do Brasil seriam resolvidos com o afastamento da presidente da república. Isso é, no mínimo, preocupante. De fato, a sombra do nada encobre, na verdade, um delírio.