Enquanto isso, no lado de cá, a histeria é coletiva.
O
limite da política hoje está em dois afetos: o medo e a esperança. Esses
afetos, bloqueadores, se organizam por uma relação com o tempo e com uma
expectativa de um mal ou de um bem por vir. Esta é a abertura do debate “Afeto,
Psicanálise e Política” entre o filósofo Vladimir Safatle e a psicanalista
Maria Rita Kehl.
O
programa, atual, foi ao ar na TV Cultura em setembro de 2015. A psicanalista
analisou a ideia de esperança a partir de algumas possibilidades. Uma delas,
quando constitui a imagem do que se espera e isso aliena o indivíduo e anula a
sua potência de ação.
“A política se tornou um lugar onde você compra o candidato melhor”.
Mas,
diante da situação atual, há impasses: como consumir algo que você não comprou?
Em outras palavras, se a moeda de troca é o voto não há um desejo envolvido
entre o consumidor (eleitor) e o produto (político) no escambo eleitoral?
Devemos considerar a hipótese de levar um produto forçado?
Há
interesse de que mesmo sem desejo (Eros) o sujeito (eleitor) demonstre certa
satisfação. Mesmo que não reconheçam que isso seja necessário.
Neste
caso, o gato vestiu as orelhas da lebre na esperança de que um dia seja aceito
como tal. Ou melhor, “o porco no saco”, como a expressão na Europa é utilizada,
ficou no planalto.
Enquanto isso, no lado de
cá, a histeria é coletiva.
“Quando o afeto paterno é procurado em figuras de líderes políticos autoritários e corruptos, como reclamar daquele que abusa do poder, mas estende a mão e protege?”
A inquietação da especialista em corrupção
e patologia social, Denise Ramos, nos faz refletir. O brasileiro naturaliza,
incorpora a corrupção. É uma doença psicossocial.
No imaginário popular,
como num passe de mágica, todos os problemas do Brasil seriam resolvidos com o
afastamento da presidente da república. Isso é, no mínimo, preocupante. De fato, a sombra do nada encobre, na verdade, um delírio.