“O ensaio promove a liberdade do pensamento que só se pode realizar quando o pensamento investe todas as suas forças contra si mesmo”, Márcia Tiburi.
A V Bienal Rubem Braga, em 2014, foi para a Praça de
Fátima e recebeu elogios. Na época, a secretária de municipal de Cultura disse
que “a aprovação foi unânime”. Nesta edição, no entanto, fui mais que um
convidado.
Pela primeira vez a Sala “Rubem Braga” foi gerenciada
pela Academia Cachoeirense de Letras (ACL). Inclusive, na ocasião, lancei “A
arte no divã”, publicação que ganhei da Editora Delicatta de São Paulo.
E para abordar o tema "Formação e Exposição do
Pensamento Crítico na Literatura", no auditório Marco Antônio de Carvalho,
estive entre os convidados mais do que especiais: a filósofa Márcia Tiburi e o
crítico literário Paulo Franchetti.
Nesta edição, debatemos a necessidade de entender que o conhecimento
obtido por meio da leitura estimula o pensamento e desenvolve o raciocínio,
ampliando a visão de mundo do leitor.
Lemos, falamos e depois comemos sushi. Ora, nada melhor!
Pude aprender com “feras” da crítica e do pensamento
contemporâneo que o texto deve fazer parte da vida. Ele sai da abstração do
autor. Em termos psicanalíticos, se desloca, sublime, para a realidade sensível
dos leitores. É ele, o texto literário e o não-literário, responsável pelo
enriquecimento intelectual e cultural, uma vez que dissemina o saber.
Ficou combinado que há literatura e “literatura”. A
disseminação de livros eróticos foi cinquenta vezes discutida na mesa. Até a
filosofia ficar cinza (referência à obra de Márcia Tiburi). E fechamos os
debates da V Bienal Rubem Braga.
No texto “A Escrita Herege - O fim do texto e do sujeito
filosófico”, Marcia Tiburi diz que a filosofia pode tomar emprestada da
literatura essa qualidade de escrita, de ser uma escrita:
“O espanhol Eugenio Trías já dizia que todo filósofo é um escritor. Mas a filosofia não é apenas um ofício desse escritor. Ela é também diálogo que pode se dar para além da literatura e para além da escrita”.
Na crítica ao texto literário em detrimento do ensaio:
“(...) este é o modo da escrita que revela um pensamento que não se rende ao dado, à regra, à lei. Autônomo, o ensaio é a forma da escrita que constrói suas próprias leis enquanto procura reconhecer o modo de rompê-las. O ensaio promove a liberdade do pensamento que só se pode realizar quando o pensamento investe todas as suas forças contra si mesmo, o que significa estar a favor de sua virtude efêmera”.
Desse modo, diz Paulo Franchetti na “Poesia contemporânea
e crítica de poesia”:
“Hoje, quando as fronteiras entre o que é e o que não é literário são flexíveis e incertas, quando o estético já não se sustenta a partir do cânone, mas, pelo contrário, se vê explicitamente submetido ao político (e aqui estou pensando, por exemplo, nos cânones alternativos, nos quais o valor estético ou se quer outro, ou é modalizado por, ou tem menor importância do que o recorte político, sexual, étnico, genérico), mais se faz evidente, para o bem e para o mal, o mecanismo crítico básico de avaliar o objeto inserindo-o numa narrativa particular, dentro da qual ganha densidade e sentido”.
Foi uma experiência inesquecível. Crítica, crônica,
poética, libertadora e gastronômica!