sexta-feira, 13 de maio de 2016

Outras bienais (V)


“O ensaio promove a liberdade do pensamento que só se pode realizar quando o pensamento investe todas as suas forças contra si mesmo”, Márcia Tiburi.

A V Bienal Rubem Braga, em 2014, foi para a Praça de Fátima e recebeu elogios. Na época, a secretária de municipal de Cultura disse que “a aprovação foi unânime”. Nesta edição, no entanto, fui mais que um convidado.

Pela primeira vez a Sala “Rubem Braga” foi gerenciada pela Academia Cachoeirense de Letras (ACL). Inclusive, na ocasião, lancei “A arte no divã”, publicação que ganhei da Editora Delicatta de São Paulo.

E para abordar o tema "Formação e Exposição do Pensamento Crítico na Literatura", no auditório Marco Antônio de Carvalho, estive entre os convidados mais do que especiais: a filósofa Márcia Tiburi e o crítico literário Paulo Franchetti.  Nesta edição, debatemos a necessidade de entender que o conhecimento obtido por meio da leitura estimula o pensamento e desenvolve o raciocínio, ampliando a visão de mundo do leitor.

Lemos, falamos e depois comemos sushi. Ora, nada melhor!

Pude aprender com “feras” da crítica e do pensamento contemporâneo que o texto deve fazer parte da vida. Ele sai da abstração do autor. Em termos psicanalíticos, se desloca, sublime, para a realidade sensível dos leitores. É ele, o texto literário e o não-literário, responsável pelo enriquecimento intelectual e cultural, uma vez que dissemina o saber.

Ficou combinado que há literatura e “literatura”. A disseminação de livros eróticos foi cinquenta vezes discutida na mesa. Até a filosofia ficar cinza (referência à obra de Márcia Tiburi). E fechamos os debates da V Bienal Rubem Braga.

No texto “A Escrita Herege - O fim do texto e do sujeito filosófico”, Marcia Tiburi diz que a filosofia pode tomar emprestada da literatura essa qualidade de escrita, de ser uma escrita:

“O espanhol Eugenio Trías já dizia que todo filósofo é um escritor. Mas a filosofia não é apenas um ofício desse escritor. Ela é também diálogo que pode se dar para além da literatura e para além da escrita”.

Na crítica ao texto literário em detrimento do ensaio:

“(...) este é o modo da escrita que revela um pensamento que não se rende ao dado, à regra, à lei. Autônomo, o ensaio é a forma da escrita que constrói suas próprias leis enquanto procura reconhecer o modo de rompê-las. O ensaio promove a liberdade do pensamento que só se pode realizar quando o pensamento investe todas as suas forças contra si mesmo, o que significa estar a favor de sua virtude efêmera”.

Desse modo, diz Paulo Franchetti na “Poesia contemporânea e crítica de poesia”: 

“Hoje, quando as fronteiras entre o que é e o que não é literário são flexíveis e incertas, quando o estético já não se sustenta a partir do cânone, mas, pelo contrário, se vê explicitamente submetido ao político (e aqui estou pensando, por exemplo, nos cânones alternativos, nos quais o valor estético ou se quer outro, ou é modalizado por, ou tem menor importância do que o recorte político, sexual, étnico, genérico), mais se faz evidente, para o bem e para o mal, o mecanismo crítico básico de avaliar o objeto inserindo-o numa narrativa particular, dentro da qual ganha densidade e sentido”.


Foi uma experiência inesquecível. Crítica, crônica, poética, libertadora e gastronômica!