"O universo psicanalítico não está dividido entre aqueles que já compreenderam tudo e aqueles que ainda não compreenderam".
Um paciente vai ao consultório do psicanalista com o
diagnóstico pronto. Pesquisou no Google:
- Sou bipolar. Fiz o teste do facebook e deu isso, batata!
Segundo o artigo “Estrutura e discurso: problema e questões
do diagnostico”, publicado na Revista Affectio Societatis, a exigência de um
diagnóstico estrutural parece ser imposta pelo paciente. Se não sai com um do
consultório procura outro profissional, ou em páginas milagrosas da internet.
Pesquisadores destacam que desde o nascimento da psicanálise,
apesar do desenvolvimento da teoria há mais de um século, a incerteza
diagnóstica continua presente até mesmo em casos famosos da literatura
analítica como o do Homem dos lobos (psicose, neurose ou borderline?) ou mesmo
o caso Schreber (esquizofrenia ou paranóia?).
Daí, de acordo com Sidi Askofaré e Sonia Alberti, a
necessidade de distinguir, para o desenrolar da prática, o que é da ordem da clínica
e o que é da teoria visando, sobretudo, manter aberta a possibilidade do
surgimento do novo.
A novidade não pode ser obstáculo epistemológico para a
psicanálise. Porque, sem o novo, o acaso clínico, isso pode levar à impressão,
enganadora, de que a psicanálise seria uma disciplina pronta. Não é.
Engano considerar que não há questões não resolvidas. Nossa
missão aqui, difícil por sinal, é tentar dar continuidade aos teóricos
pioneiros. Não é presunção. É tarefa do analista que não se contenta em repetir
o que os outros já disseram.
O universo psicanalítico não está dividido entre aqueles que
já compreenderam tudo e aqueles que ainda não compreenderam. Porque quem diz
saber alguma coisa, não sabe nada. O único que pode resolver a demanda do
paciente é o próprio. Nem o analista e, muito menos, o prof. Dr. Google podem
supor alguma coisa.