domingo, 31 de julho de 2016

Sabe nada, inocente!


"O universo psicanalítico não está dividido entre aqueles que já compreenderam tudo e aqueles que ainda não compreenderam".


Um paciente vai ao consultório do psicanalista com o diagnóstico pronto. Pesquisou no Google:

- Sou bipolar. Fiz o teste do facebook e deu isso, batata!

Segundo o artigo “Estrutura e discurso: problema e questões do diagnostico”, publicado na Revista Affectio Societatis, a exigência de um diagnóstico estrutural parece ser imposta pelo paciente. Se não sai com um do consultório procura outro profissional, ou em páginas milagrosas da internet.  

Pesquisadores destacam que desde o nascimento da psicanálise, apesar do desenvolvimento da teoria há mais de um século, a incerteza diagnóstica continua presente até mesmo em casos famosos da literatura analítica como o do Homem dos lobos (psicose, neurose ou borderline?) ou mesmo o caso Schreber (esquizofrenia ou paranóia?).

Daí, de acordo com Sidi Askofaré e Sonia Alberti, a necessidade de distinguir, para o desenrolar da prática, o que é da ordem da clínica e o que é da teoria visando, sobretudo, manter aberta a possibilidade do surgimento do novo.

A novidade não pode ser obstáculo epistemológico para a psicanálise. Porque, sem o novo, o acaso clínico, isso pode levar à impressão, enganadora, de que a psicanálise seria uma disciplina pronta.  Não é.

Engano considerar que não há questões não resolvidas. Nossa missão aqui, difícil por sinal, é tentar dar continuidade aos teóricos pioneiros. Não é presunção. É tarefa do analista que não se contenta em repetir o que os outros já disseram.

O universo psicanalítico não está dividido entre aqueles que já compreenderam tudo e aqueles que ainda não compreenderam. Porque quem diz saber alguma coisa, não sabe nada. O único que pode resolver a demanda do paciente é o próprio. Nem o analista e, muito menos, o prof. Dr. Google podem supor alguma coisa.