sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Meu voto é divino*



“Não mais falarei muito convosco, pois o governante do mundo está chegando. E ele não tem nenhum poder sobre mim", João 14,30. 
Cansei de reclamações. Nas eleições de outubro vou votar em Deus. Quero ver a oposição (salvos, ou condenados à danação eterna, os ateus) cair de pau quando morrer alguém num posto de saúde ou um barranco deslizar sobre a cabeça dos incrédulos. Mesmo com o risco do Ministério Público denunciar o Todo Poderoso por nepotismo cruzado (Pai atuaria no Legislativo, o Filho no Judiciário e o Espírito Santo no Executivo) tenho fé que vai dar tudo certo. 

Deus é democrático. Podem blasfemar à vontade. Livre arbítrio, meu chapa. Porém, o castigo vem só na outra vida. Pau de arara no inferno para quem ousar dizer que a culpa de todos os problemas da humanidade é Dele. Deus me livre! Já disse, tem o meu voto.

As leis de Deus farão com que o Estado deixe de ser laico. Um "avanço" em termos de conduta moral que tanto se prega na cruz hoje em dia. Muitos militantes vão querer instaurar o tribunal da inquisição, em nome de Jesus. Este ocupará um cargo magnânimo no STF (Suprema Trindade Fraternal).

Agora, cá entre nós... Haja poder para o Espírito Santo! Vai ficar na ponta da lança. No coração do problema. Milagrosamente terá que agradar gregos, troianos, gentios e gente chata. O próprio Jesus não conseguiu essa façanha e trocou de cargo com Ele. O Pai deixou. De paráclito, o Espírito passaria a ser o executor das promessas de campanha. Por exemplo, na Ação Social e Cultura, a multiplicação dos pães, peixe e circo; na Saúde ressuscitar os mortos e curar os enfermos; na Educação, concurso de parábolas e introdução das línguas aramaica, grega e latina nas escolas públicas. Além, é óbvio, moradia eterna com o programa "minha casa, minha vida" no bairro Paraíso.

Só tenho a ganhar com o voto divino. Seria o primeiro governo comunista, de fato, da história. A primeira lei do novo testamento seria pedir aos ricos para doarem seus bens aos pobres. Lembre-se que se trata de um governo, antes de tudo, democrático. A burguesia pode optar por permanecer com seus tostões, depois é só acertar as contas no hades.      

Creio que não perdi a razão ao ajudar, no pleito, uma intervenção rumo ao governo teocrático.  Se a história do mundo é o plano da Providência, segundo Hegel, não serei eu o apolítico. Termino o manifesto teocrático com o slogan da campanha: Vox populi, vox Dei.


Ah, Deus... Cuidado com capetas. Eles pedem impeachment. 


*Publicado, originalmente, em 2014.