“O meu pai ensinou-me a trabalhar; não me
ensinou a amar o trabalho”,
Abraham Lincoln.
por Roney Moraes*
Não sei por onde começar a crítica ao movimento dos
professores da rede municipal. Talvez por um viés revolucionário ainda
existente, ou, pelo fato de conhecer e ter estudado com muitos dos professores
que estão a favor do movimento em Cachoeiro de Itapemirim. Mas, vamos lá. Assim
caminha a humanidade... Em ritmo acelerado de campanha.
Isso mesmo. Campanha eleitoral. Nada mais. A paralisação não
passa de um movimento político, ou quem sabe uma “exigência educativa” para
manusear juridicamente os fantoches de giz de cera? Professor, por favor... Ensaiar
greve em ano de eleição? Brincadeira.
Está certo. Lei é lei e o piso deve ser pago aos
professores. Mas o caos em que se encontram várias escolas da rede nos bairros
periféricos é que deveria ser tratado com maior urgência entre a categoria.
Alunos que ameaçam e até cumprem as ameaças aos educadores nos colégios
públicos estão virando rotina. Procurem ver o número de ocorrências registradas
nos últimos anos e comprovem o aumento da violência contra o professor.
Enquanto os manifestantes fazem como a tartaruga, ou seja, “nada”...
Para mudar o perfil das comunidades onde estão inseridas as escolas, as
crianças perdem a pouca liberdade que têm nos momentos em que estão no ambiente
escolar. Digo isso, principalmente, nos bairros mais carentes da cidade. E
velozes como lobos, os agentes facilitadores da dependência química entram para
ficar na sala de aula, inclusive, como a progressão continuada e o egocentrismo
de alguns coordenadores do movimento (não quero generalizar). Três grandes
problemas que, sem solução, vão levar a geração atual de estudantes ao
ostracismo e ao inevitável mundo do “fácil”, o crime.
A cultura e o conhecimento privados às crianças por puro ato
de narcisismo podem prejudicar ou inflar ainda mais a situação, a meu ver,
caótica nas escolas públicas. A operação tartaruga é, sem dúvida, operadora
dessa situação, pois o aluno passa menos tempo na sala de aula e mais tempo em
ambiente hostil.
Deram um prazo para que se cumpra a exigência do piso
nacional e para a redução da carga horária. Parece que trabalhar vinte e cinco
horas é muito para uns mestres. Isto é um verdadeiro sequestro à educação dos
jovens, com descarado pedido de resgate, que, por motivos sociais pouco estão
se importando com eles mesmos. Se nem os professores ligam para eles... Ninguém
faz greve para melhorar as condições dos discentes. Para chegarem mais livros,
para incluírem outros profissionais que auxiliariam os docentes na atuação
psicossocial dos pais e alunos das periferias... Isso sim mereceria apoio
incondicional de toda opinião pública.
Em tom de ameaça; “se nenhum acordo for fechado, os professores
decretarão greve geral por um tempo indeterminado”, o comando do movimento
cágado (réptil da ordem testudinata: a mesma das tartarugas) está mais para uma
fonte geradora de alienação do que revolucionária. Por isso, nem perco meu
tempo em falar mais de operação tartaruga. Para mim é cágado. Também conhecido
como “tartaruga pescoço de cobra”.
Se a carapaça (achatada e de cor escura) serviu é só
vesti-la, colocar uma melancia no pescoço e ir para Linha Vermelha servir de
trampolim político para os que vão colocar a cabeça para fora na hora da desova
eleitoreira.
* Roney Moraes é psicanalista, jornalista, bacharel em Teologia, mestre em Filosofia da Religião e doutorando em Psicologia Pastoral.
* Roney Moraes é psicanalista, jornalista, bacharel em Teologia, mestre em Filosofia da Religião e doutorando em Psicologia Pastoral.