Quem disser que é dono da verdade
ou foi enganado por um vendedor de boa lábia ou está mentindo. Provavelmente a
segunda opção seja a mais provável. Uma verdade pronta e acabada é a negação da
aprendizagem. Portanto, os pais e educadores não devem ir contra as ideias dos
alunos, mesmo que essas pareçam, em primeira instância, incoerentes. O papel do
professor, além de ser um agente de transformação, é, antes de tudo, de
compreensão. Sem esse conhecimento, ele pode causar o desinteresse no
aprendizado dos discentes e daí para frente criar um sujeito sem predicados.
Muitos leitores me perguntaram
com referência ao artigo “Sobre a psicanálise na escola”, o que fazer, de
acordo com o novo ambiente hostil, principalmente nas periferias e unidades
públicas de ensino. Não há receita pronta e acabada. O que podemos é refletir junto
essa questão. A escola tem que aprender a superar seus problemas sem distinção
de poder. Corpo discente e docente tem que respeitar o processo de descobertas
de suas “verdades”. Não dar respostas prontas. Fazer pensar é um ato de
libertação. Um aprende com o outro.
Para as crianças e adolescentes a
rebeldia, vandalismo, ou até a violência com objetivo de se impor num
determinado grupo é uma forma de “liberdade”. Talvez da opressão em sua vida
extraclasse. Quando esse indivíduo, que já é oprimido chega à escola desconta
nos colegas e é novamente “violentado” com palavras pelo próprio educador. Este,
o vândalo, sofre duas vezes, e pior, as palavras doem mais do que
bofetadas.
Friedrich Nietzsche, em 'Para
Além de Bem e Mal' diz que “há, na
verdade, qualquer coisa rebelde a toda a instrução, um granito de fatum
espiritual, de decisões predestinadas e de resposta a perguntas escolhidas e
pré-formuladas”.
A maior rebeldia que se pode
esperar de um aluno é a falsidade. Ou o “bom moço (a)”. Aquele que fica quieto,
sem participação. Que passa quase despercebido. Esse é preocupante. Qual será a
realidade dele? Em que mundo ele está? Na sala de aula que não é.
Quem pode explicar a dor e o
sofrimento? Cada aluno é um ser singular com seus próprios dilemas. Não adianta
executar um “castigo” coletivo. Isso, talvez, só serviria para corrigir um
dentre tantos outros que têm inúmeros problemas no âmbito social, econômico,
cultural diferente dos demais. Também o professor tem suas neuroses. Até mais
angustiantes do que a de uma turma inteira. Então o que fazer?
É preciso ter o desejo de
libertação. Livrar-se da alienação. O medo da consciência crítica sobre a
realidade de si e da sociedade provoca essa prisão e, consequentemente, surgem
os escapismos. É mais cômodo tomar medicamentos, abusar de drogas, e deixar a
situação como está do que enfrentá-la superando assim o sofrimento emocional.
Há uma falsa interpretação da
realidade comumente disseminada no meio acadêmico. “A minha realidade não pode
ser mudada”. A dialética subjetiva do educador busca o domínio de suas emoções,
que o boicotam, oprimem e alienam o seu Ser. Quando ele critica a violência,
sem embasamento ou conhecimento da singularidade dos afetados diretamente com a
agressão física, ele, o professor, pratica contra si a violência psicológica.
O sofrimento do ensino público
vem de longa data. A desumanização e a negligência das autoridades públicas
provocam outra questão que está inserida no contexto político educacional: como
humanizar-se numa sociedade violenta e corrupta? A resposta é estar consciente
da busca pela justiça, mesmo que pareça uma utopia.
Voltando aos alunos, a
valorização da subjetividade é a chave. A imaginação facilita o processo de
humanização. De tornar uma situação dolorosa mais tranquila, por meio de uma
brincadeira, de uma piada. Claro, sem esquecer a realidade, a objetividade.
Essas que são as duas realidades no ambiente escolar (subjetiva e objetiva).
Os conteúdos concretos também
podem ajudar a compreender o seu dilema pessoal, mas, a vocação do ser humano é,
sem dúvida, subjetiva. Ela está voltada para o diálogo, esperança, humildade,
simpatia e para o amor. Na minha humilde opinião.