“A preocupação deveria levar-nos à ação e não à depressão”, Karen Horney.
Deveria a preocupação nos impulsionar, como queria a célebre
psicanalista Karen Horney (1885-1952), mas o que acontece, na maioria dos casos
é, justamente, o contrário. Uma onda de sucessivos suicídios tem deixado a
sociedade sul capixaba em estado de alerta. Sendo a autopreservação um dos,
senão o maior, instinto humano, então o que leva uma pessoa a cometer tal ato?
Conforme o portal Banco de Saúde, “há mais ou menos um século, tanto o
sociólogo Émile Durkheim, quanto o psicanalista Sigmund Freud apresentaram
algumas explicações. Durkheim, não surpreendentemente, viu as causas do
suicídio em fatores sociais, como por exemplo, a incapacidade que uma pessoa
tem de se integrar na sociedade, enquanto Freud enraizou sua explicação em
impulsos instintivos, especialmente no que ele chamou de Instinto de Morte”.
Estudos recentes apontam que a depressão, dependência química, transtorno
bipolar, transtorno de personalidade, anorexia e esquizofrenia são as
principais causas, ou seja, a maioria das pessoas que cometem
suicídio tem algum transtorno mental.
Ainda de acordo com o Banco de Saúde, Em 2005, estudiosos no assunto
proporam que “as pessoas que se matam devem cumprir duas condições, além de se
sentirem deprimidas e desesperadas. Primeiro, elas devem ter um forte desejo de
morrer. Isso geralmente se dá quando as pessoas sentem que são uma carga
intolerável sobre os outros, e também quando não se sentem parte de um grupo, e
nem possuem alguém que possa lhes transmitir um sentimento de integração. Em
segundo lugar, e mais importante, as pessoas que conseguem cometer suicídio
apresentam capacidade para cometer tal ato. Isto pode parecer óbvio, mas
ninguém, até então, tinha tentado descobrir porque algumas pessoas são capazes
de se matarem, enquanto outras não. Não importa o quão sério alguém deseje
morrer, o suicídio não é uma coisa fácil de fazer, pois o instinto de
autopreservação é muito forte”.
O estudo sobre o suicídio explica que, existem várias maneiras de uma
pessoa que deseja morrer desenvolver a capacidade de sobrepor-se ao instinto de
autopreservação. Uma delas é treinando. Em muitos casos, uma primeira tentativa
de suicídio é tímida, com cortes rasos ou uma ligeira overdose. Somente após
várias tentativas que as ações são fatais.
Uma compreensão mais apurada dos fatos que levam as pessoas a cometerem
suicídio pode auxiliar, e muito, os clínicos a avaliar o grupo de risco, e
encontrar novos métodos de tratamento. A psicoterapia pode ajudar a
desencorajar as pessoas a se machucarem, diminuindo a probabilidade de que
muitas venham a cometer suicídio.
O problema é que muitos não procuram ajuda profissional porque os
primeiros sintomas dos transtornos que acarretam nesta fatalidade,
inicialmente, são boicotados pelo próprio ego e isso, com o estresse do mundo
moderno, aliado a procrastinação (adiamento das ações ou trabalho, resultante
de sensação de culpa por não cumprir seus compromissos) geram a ansiedade que
causa desgaste físico e psíquico deixando o sujeito fragilizado, ou seja,
deprimido.
Embora
seja costume deixar tudo para “última hora”, esse adiamento pode se tornar um
problema crônico e acabar causando alguma desordem psíquica, levando o
indivíduo também ao que chamo de “mal do século”, a depressão e, em seguida o
suicídio.
*psicanalista, jornalista, professor e membro da ACL.