“O segredo da felicidade é encontrar a nossa alegria na
alegria dos outros”, Alexandre Herculano.
por Roney Moraes*
Um tema que é a ojeriza dos intelectuais. A
felicidade, para a maioria dos pensadores, como os do “clube do bolinha” (no
Mourad’s), ou da “Luluzinha” nos encontros marcados que nunca acontecem (só
para quebrar o clima), é superficial, não tem o menor valor. É mal visto e
bobo. É tema para livros de autoajuda,
enfim, idiota.
A ideia de que o intelectual tem que sofrer e
que a felicidade é para os desprovidos de cérebro é retrógrada. Nada nos impede
de apoderarmos da felicidade. Não é bobagem persegui-la, pelo menos no âmbito
psicanalítico. Ora, o objetivo da psicanálise é fazer as pessoas felizes.
É interessante notar que alguns têm medo da
felicidade. Há um pânico ancestral, segundo Giorgio Agamben, que é um dos mais
importantes pensadores europeus da atualidade. Por isso, muitos disfarçam ou
boicotam para garantir o prolongamento dessa sensação. Qualquer obsessivo sabe
disso. Ele mesmo esconde o presente de aniversário só para abri-lo no ano
seguinte. Está garantido seu deleite.
Quando um analisando começa a descobrir algo
sobre si e isso o torna feliz, imediatamente sai contando para todo mundo. Lá
pela quinta ou sexta sessão, ele continua a falar de suas experiências em casa
e ouve: “é isso? Será que vale mesmo a pena continuar indo ao analista?”. O
importante é descobrir que o seu máximo é o mínimo para o outro.
Tive o privilégio de ler a crônica da
acadêmica Marilene Depes no Facebook. Naquele instante pude perceber o quanto
um arco-íris foi o máximo para tantas pessoas e eu sequer ‘curti’ os amigos
que, de vários ângulos, em olhares sensíveis, postaram fotos na rede social.
Imediatamente lembrei e resolvi falar sobre a felicidade na visão da Clínica Lacaniana
(o texto inspirador me remeteu ao passado, às aulas de regressão na escola de
Psicanálise). Dentro dela, da clínica, descobrimos que nós somos uma “bobagem”,
porém podemos ser também uma “maravilha”, mesmo sendo “tolos”.
Se encontro a
felicidade é meu dever transmiti-la, emaná-la. E para ser feliz é preciso
suportar as “anormalidades”, o que nos destaca do grupo. Suportar isso não é
nada fácil.
O psicanalista Jorge
Forbes diz que “o problema da vida está na inteligência, na beleza, no charme e
em todas essas ‘boas’ coisas ”, por isso, muitos acham que a autossuficiência
os tornam especiais. Pode até ser, mas o bônus vem acompanhado do ônus da
solidão e da desventura.
Apesar de todas as merdas serem solidárias (quem
não tem problemas?) e Freud dizer que a felicidade é um dilema individual, nenhum
conselho é válido e cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz, a felicidade
está também no grupo. É como diz ditado popular, “uma mão lava a outra” e na
comunidade é possível viver com estímulo e segurança suficiente para alcançar o
contentamento, o estado de júbilo.
A felicidade só é possível fora da diferença.
No grupo, nas pequenas coisas, no arco-íris, nos lírios dos campos, nas
amizades, na normalidade. Portanto, os intelectuais podem até espernear, mas,
normal é ser feliz! Então, como diria Forbes, “bem aventurados os que suportam
a surpresa, o encontro, o acaso”.
*Psicanalista,
jornalista, membro da ACL