segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Tripé da internação



“O que é que me falta que eu preciso estar grudado o tempo todo nesse objeto que me complete?”

O tratamento para dependentes químicos em caso de internação (este é o último caso, pensemos que a pessoa já tenha passado por todas as outras etapas como terapia individual, ambulatorial, grupos e etc.) tem por base três pilares fundamentais: psicológico, farmacológico e religioso. É como uma mesa com três pernas de apoio. Se tirarmos uma, a mesa cai. E a queda, na maioria das vezes, não é nada agradável.

Erram aqueles que se apoiam apenas em uma ou duas formas de cuidados dentro de uma Comunidade Terapêutica. Se o sujeito é tratado apenas com terapia ele não terá como sustentar sua sobriedade durante o processo de ressocialização. Só com medicamentos é quase a mesma coisa. O remédio (que também é uma droga) tem suas funções paliativas, porém, muitas vezes é usado como substituto da substância de preferência do indivíduo, fora suas comorbidades (duas ou mais doenças relacionadas).

Notamos que a grande maioria das Casas Terapêuticas tem forte apelo religioso. Isso é bom, no entanto, somente orar e capinar não ajuda absolutamente em coisa nenhuma. Sejamos sensatos. Todos os planos terapêuticos devem ter os três pilares, mas isolados são até perigosos. Causam outro tipo de dependência, ou seja, do terapeuta, do medicamento e do fundamentalismo.

O perigo está justamente nas dificuldades que, ao longo do tempo, se manifestam e deixam o paciente com sensação de incompetência para várias coisas. E basta um toque de desconfiança em si mesmo para uma queda livre.

A dependência é como a diabetes. Não tem cura. É uma doença crônica, progressiva e fatal. Então o quanto antes procurar ajuda melhor. Tentar sair sozinho da lama (engano os que acham que dependentes estão no fundo do poço porque lá tem água limpa) não é fácil. Buscar ajuda adequada é imprescindível. Mas como e onde fazer isso?

Antes procure por informações com pessoas especializadas no assunto. Em muitos casos a internação é o último recurso e, por isso, toda família e pessoas envolvidas com o dependente devem também se tratar.  

Há casos em que a pessoa que passou por um tratamento, seja ambulatorial, grupo de autoajuda (AA, Pastoral da Sobriedade, Amor Exigente, NA) ou internação voluntária que se mantém sóbria, mas os familiares continuam doentes.

A co-dependência é tão grave quanto a dependência. As pessoas que sofrem ao ver seu ente querido se matar aos poucos abusando de substâncias psicoativas estão tão ou mais vulneráveis quanto à pessoa que passou por um tratamento. É comum os próprios familiares, por falta de conhecimento, serem fatores de risco para recaída do dependente.

O codependente é dependente do dependente e se não estiver junto ao tratamento, pode sofrer muito com isso. Portanto, o desespero em casos de Síndrome de Dependência Química na família não é um aliado, mas inimigo da resolução do problema.

E a psicanálise?
Perguntado sobre o que a psicanálise pode fazer para combater esse “mal” contemporâneo, o profissional logo transforma em patologia a obsessão e a compulsão. Sintomas que levam o indivíduo a usar substâncias psicoativas ou ter outros males como consumo exagerado pode levar à toxicomania (mania de consumir uma ou mais substâncias químicas e tóxicas).

Este é um sintoma do homem moderno, que por estar imerso no discurso capitalista, buscaria sua forma particular de obter a satisfação. O individualismo, estresse e outras complicações do cotidiano fazem com que o indivíduo busque adequação no modismo ou um escapismo que o leva a fugir da realidade em que vive e as drogas são ótimas nesse sentido. 

O toxicômano, com a ajuda da psicanálise dentro ou fora da Comunidade Terapêutica, teria que chegar a entender que o que lhe falta não é a droga, mas algo que carece a todo o ser humano. Desde o nascimento somos faltantes de alguma coisa. E essa necessidade de busca, mesmo inconsciente, é que nos faz pensarmos, conversarmos, criarmos e aprendermos a lidar com a dor de viver.