domingo, 13 de julho de 2014

O amor é cego, e a paixão nem se fala




"Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis", Carlos Drummond de Andrade.

O Brasil vivenciou nas últimas semanas uns turbilhões emocionais que podem ser claramente classificados como derivados do amor e da paixão.

A palavra paixão é aplicada para designar um sentimento muito forte em relação a uma coisa, ideologia, pessoa ou ação. No caso, o futebol cumpre todos os requisitos para ir além das fronteiras amorosas e bater de frente com a paixão, pois "patior", em latim, significa sofrer e suportar...  

O Brasil tem um povo hospitaleiro, amoroso, apesar de suportar constantemente o sofrimento e até superá-lo. Amar a pátria não é a mesma coisa que ter paixão por chuteiras.  
Se o amor é cego, a paixão nunca viu sequer uma pálpebra. Nem sabe o que é. Ela apenas sente; a falta, a decepção, o impulso, os afetos...

A paixão é ambígua. Ao mesmo tempo que abala ela renova as estruturas. A reconstrução é uma fase terminal, porque o que resta quando acaba são escombros, porém, quase sempre, ninguém lamenta a experiência. Talvez reclame de seus efeitos à posteriori.

Uma pesquisa realizada pelo Ibope há dois anos revelou que a maior paixão dos brasileiros é o futebol (77%). Ainda bem, porque indicações importantíssimas ficaram para segundo plano. Tomara que primeiro no amor.

A paixão é a mãe do sofrimento, já que implica impulso, trazendo a dor por não conseguir o objeto do desejo.

Se existe algo que não combina com pesquisa científica essa coisa é a paixão. Esse sentimento imprevisível e espontâneo é hoje um dos principais objetos de estudo .

Os apaixonados estão na mira de psicanalistas, psicólogos, sociólogos e historiadores. E as expectativas das pesquisas são grandes. Espera-se que o sentimento impulsivo desvende, entre outras coisas, a evolução humana, mudanças sociais e até o funcionamento do cérebro.

O futebol e outras paixões são engatilhados por um coração predisposto. Não nos apaixonamos por acaso. É preciso estar pronto para essa experiência. Pessoas com medo de dar um mergulho no escuro do inconsciente criam barreiras para não se apaixonar. Isso não é saudável.

Pode se dizer que a paixão, apesar de cega, caolha, surda, mas nunca muda, é, às vezes, necessária, mas existem pessoas que nunca terão essa experiência. É o caso dos sujeitos que  não têm ou vão perdendo os sentimentos de ligação com outro ser. Quem é dependente químico também perde a capacidade de experimentar a paixão pelo outro, substituindo o objeto de desejo pelo de necessidade, neste caso a droga.

Algumas substâncias psicoativas acabam impossibilitando qualquer troca, o que mata a paixão e também, mais profundamente, o amor. No outro extremo, o excesso de ligação pode se tornar doentio, como no caso de pessoas que deixam de cuidar da própria vida para viver em função do outro.

Enfim, nada demais!