"Se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de
todas as explicações possíveis", Carlos Drummond de Andrade.
O Brasil vivenciou nas últimas semanas uns turbilhões emocionais
que podem ser claramente classificados como derivados do amor e da paixão.
A palavra paixão é aplicada para designar um sentimento
muito forte em relação a uma coisa, ideologia, pessoa ou ação. No caso, o
futebol cumpre todos os requisitos para ir além das fronteiras amorosas e bater
de frente com a paixão, pois "patior", em latim, significa sofrer e
suportar...
O Brasil tem um povo hospitaleiro, amoroso, apesar de suportar
constantemente o sofrimento e até superá-lo. Amar a pátria não é a mesma coisa
que ter paixão por chuteiras.
Se o amor é cego, a paixão nunca viu sequer uma pálpebra.
Nem sabe o que é. Ela apenas sente; a falta, a decepção, o impulso, os
afetos...
A paixão é ambígua. Ao mesmo tempo que abala ela renova as
estruturas. A reconstrução é uma fase terminal, porque o que resta quando acaba
são escombros, porém, quase sempre, ninguém lamenta a experiência. Talvez reclame
de seus efeitos à posteriori.
Uma pesquisa realizada pelo Ibope há dois anos revelou que a
maior paixão dos brasileiros é o futebol (77%). Ainda bem, porque indicações
importantíssimas ficaram para segundo plano. Tomara que primeiro no amor.
A paixão é a mãe do sofrimento, já que implica impulso,
trazendo a dor por não conseguir o objeto do desejo.
Se existe algo que não combina com pesquisa científica essa
coisa é a paixão. Esse sentimento imprevisível e espontâneo é hoje um dos
principais objetos de estudo .
Os apaixonados estão na mira de psicanalistas, psicólogos, sociólogos
e historiadores. E as expectativas das pesquisas são grandes. Espera-se que o
sentimento impulsivo desvende, entre outras coisas, a evolução humana, mudanças
sociais e até o funcionamento do cérebro.
O futebol e outras paixões são engatilhados por um coração
predisposto. Não nos apaixonamos por acaso. É preciso estar pronto para essa
experiência. Pessoas com medo de dar um mergulho no escuro do inconsciente
criam barreiras para não se apaixonar. Isso não é saudável.
Pode se dizer que a paixão, apesar de cega, caolha, surda,
mas nunca muda, é, às vezes, necessária, mas existem pessoas que nunca terão
essa experiência. É o caso dos sujeitos que não têm ou vão perdendo os sentimentos de
ligação com outro ser. Quem é dependente químico também perde a capacidade de
experimentar a paixão pelo outro, substituindo o objeto de desejo pelo de
necessidade, neste caso a droga.
Algumas substâncias psicoativas acabam impossibilitando
qualquer troca, o que mata a paixão e também, mais profundamente, o amor. No
outro extremo, o excesso de ligação pode se tornar doentio, como no caso de
pessoas que deixam de cuidar da própria vida para viver em função do outro.
Enfim, nada demais!