"Comentar um texto é como fazer uma
análise" (LACAN, Jacques. O seminário: livro 1. Os escritos
técnicos de Freud, trad. Betty Milan, Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1979).
No próximo final de semana, dia 26 de julho, às 10h30, o
Instituto Brasileiro de Psicanálise (IBP/Inape) vai realizar, no auditório do
Hotel Caiçara, em Cachoeiro de Itapemirim-ES, o Seminário "A Formação em
Psicanálise". Ele é destinado a todos que se interessam pelo método
desenvolvido pelo médico neurologista austríaco Sigmund Freud para tratar de
distúrbios psíquicos por meio da investigação do inconsciente. A entrada é
franca.
O interesse pelos processos de investigação do
inconsciente me levaram a compreender que um psicanalista, de fato, nunca está
pronto. Está sempre em movimento buscando
conhecimento.
Já utilizei a teoria psicanalítica, aqui neste espaço,
para comentar sobre vários assuntos cotidianos. A Psicanálise preenche um
espaço singular na minha vida e, por isso, na condição de psicanalista, tenho a
obrigação de difundi-la, sem, é claro, desmerecer outras abordagens
psicológicas.
A clínica psicanalítica busca algo além de uma “cura”, a
transformação da pessoa, a partir da compreensão dos seus problemas. O paciente
fala tudo que vem à cabeça; cabe ao psicanalista interpretar de forma incisiva
o que ele quis dizer inconscientemente, ajudando-o no autoconhecimento.
Alguns formadores afirmam que só quem foi analisado pode
analisar seus pacientes. E, alguns cursos têm a duração de dois a três anos,
tendo o profissional que continuar sua capacitação o resto da vida. É
fascinante.
Em síntese, a integração das experiências, decorrentes da
prática psicoterapêutica psicanalítica e dos estudos acadêmicos em psicologia,
me parecem contribuir muito no crescimento pessoal, intelectual e clínico,
apesar da polêmica problemática do ensino da
Psicanálise.
A psicanálise está (e sempre esteve) na teoria e na clínica.
Talvez em função de uma padronização na transmissão muitos tentam estagnar a
extensão de suas possibilidades. Por isso, há necessidade da ampliação do seu
ensino. A psicanálise é uma práxis, um método, e não uma prática que aplica
apenas a uma teoria. "(...) quem não conseguir alcançar em seu horizonte a
subjetividade de sua época" deverá renunciar a exercê-la. Conselho dado
por Lacan ao futuro psicanalista.
Segundo Lacan, não há diferença entre teoria e prática na
psicanálise. Daí a dificuldade de situá-la no meio dos conhecimentos
existentes, pois não se encontra na psicanálise uma grade curricular ou uma
fórmula prática idêntica. Por isso, cada cura, cada cuidado, é um processo singular.
E, como a Psicanálise está cada vez mais ligada ao
ambiente acadêmico, é lá também encontramos sustentação teórica para a prática
clínica, a universidade acaba por se apropriar do que, na verdade, não é de
ninguém. É patrimônio universal da humanidade.
Além do universo acadêmico, hoje, a formação no Brasil (em
instituições sérias e comprometidas com a disciplina) é conferida aos
graduados, principalmente em cursos de saúde (Psicologia e Medicina) e humanas
(Filosofia, História, Letras, Pedagogia, Teologia...) tornando "aptos"
a clinicar os pesquisadores que se submetem aos estudos teóricos e práticos sob
supervisão.
Profissionais formados em outras áreas do conhecimento
humano são aceitos no Instituto Brasileiro de Psicanálise (IBP/Inape) com aval
da diretoria e conselho consultivo. Para isso, o "candidato a psicanalista"
deverá seguir o cronograma de formação que possui as etapas de: análise pessoal,
com analista inscrito no IBP; supervisão de no mínimo dois casos em tratamento,
estudos teóricos e participação em seminários sobre temas específicos.
Porém, importante frisar que apesar de haver institutos,
escolas, associações, a psicanálise é tão complexa e anômala que, pode-se
dizer, com todas as sobras das dúvidas, que não há formação do analista, mas
somente formações do inconsciente. O psicanalista só se autoriza por ele mesmo.
Ouse, use e abuse da Psicanálise, e só há um caminho para
isso: conheça. Autorize-se!
roneyamoraes@gmail.com