"Nossa mente e nossa forma de pensar
uma partida determinam se a real competência será materializada no desempenho
ou não", Ana Maria Martins Serra.
Diante de uma situação de desafio, se o atleta pensar negativamente,
a derrota, inevitável, acontece antes da luta. Essa racionalidade resulta em
ansiedade e insegurança; estados emocionais que vão interferir na competência
e, consequentemente, no desempenho.
E qual o fator determinante para que, diante de um
desafio, um grupo pense "vou vencer" e outro grupo mentalize o
contrário? São suas experiências relevantes de vida até aquele momento,
especialmente suas formas habituais de explicar eventos de sucesso e fracasso.
Desenvolvemos, ao longo da vida, esquemas conscientes e
inconscientes, que nos permitem processar o real. Chegamos à vida adulta com uma
bagagem psíquica que pode ser trabalhada de forma a modificar a maneira como
lidamos com as dificuldades.
Sobre o inexplicável vexame internacional em solo e
gramado brasileiro, não há o que dizer. Apenas que a Alemanha tem uma das
melhores equipes da Copa, mas nada justifica o placar extratosférico de 7 x 1. Na
verdade, a seleção e o povo brasileiro não estavam preparados psicologicamente
para perder em casa. "A taça do mundo é nossa..." tem uma sonoridade inconsciente,
sendo o troféu da Fifa, um arquétipo da conquista mundial.
Para tentar digerir o resultado temos que levar em consideração
as necessidades impostas aos atletas de alto nível. Conforme nota no blog Psicologia do Esporte, "o
vencedor é lembrado e valorizado pela suplantação do outro; já ao derrotado
resta a vergonha pelo objetivo perdido, a confusão da incapacidade e a falta de
reconhecimento pelo esforço realizado". A busca pelos melhores resultados
deixou de ser superação do próprio limite para se tornar a superação do
adversário.
Hoje as medalhas de prata e bronze, prêmios dedicados ao
segundo e terceiro lugares, deixaram de distinções para se tornarem prêmios de
consolação ou até mesmo vergonha. A dificuldade que protagonistas do mundo
esportivo tem de lidar com a derrota talvez resida na posição que essa condição
assumiu na cultura contemporânea ocidental.
Sabendo que essa competição obsessiva causa danos emocionais levando alguns a sérios problemas com doping, corrupção e trapaça. Vale
tudo para vencer até ficar doente e esta
é a verdadeira derrota. Entretanto se faz necessária abordagem terapêutica para
que os atletas e torcedores mais apaixonados lidem, no decorrer de sua vida, e
de maneira saudável, com os opostos: a vitória e a temida derrota, mesmo vexatória.