terça-feira, 12 de agosto de 2014

Humano, demasiado humano




"Duas estradas se divergiam na floresta e eu, eu tomei o caminho menos percorrido, e isso fez toda a diferença". A Sociedade dos Poetas Mortos.



A morte do ator Robin Williams, de 63 anos, tem sim um gatilho. Sua vida já vinha sendo ceifada por uma vilã insistente e cruel: a dependência química.


Nos últimos meses, provavelmente em decorrência da abstinência de substâncias psicoativas estimulantes, como a cocaína, o ator estava passando por crises de depressão. No mês passado ele havia se internado em uma clínica de reabilitação.

Há décadas Robin Williams lutava contra o vício de cocaína e álcool e este último, que também é depressor do sistema nervoso, age silenciosamente na mente do indivíduo que, sem qualquer alarde, trata, sem discriminação, todos como figurantes. Personagens facilmente identificados que serão mortos em filmes de categoria B.

Sem revanchismo, mas é importante destacar que há cinco anos o ator fez uma piada infeliz, no Programa Late Show with David Letterman, onde declarou sua insatisfação pela escolha do Brasil em sediar as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro.

"É ótimo estar aqui com a próxima Oprah esta noite. E eu espero que a Oprah não tenha ficado chateada por ter perdido as Olimpíadas, sabe? Chicago mandou a Oprah e a Michelle. O Brasil mandou 50 strippers e meio quilo de pó. Não foi justo”, disse em letras garrafais e alcoólicas.

Antes da fama participou de inúmeras festas regadas a muita droga, uma delas com John Belushi, poucas horas antes da morte dele por overdose.

Se toda "brincadeira" tem um fundo de verdade, eis um exemplo cinematográfico. Sabe-se que, pelas estatísticas, uma porcentagem considerável de dependentes químicos (maioria) não consegue abandonar as drogas, então se encaixa aqui o ditado popular "peixe morre pela boca", pois o "Patch Adams" foi encontrado morto em sua casa, aparentemente, depois de cometer suicídio. Contudo, vale uma ressalva publicitária: nada substitui o talento.

O vício não apagará sua virtude, pois o artista nunca se vai. Sua obra, seus filmes, sua brilhante carreira é indomável. Não há lugar no esquecimento para o "homem bicentenário".

A questão é séria e se trata de uma importante problemática de saúde pública no mundo.   Segundo um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), até o ano de 2020, mais de 1,5 milhões de pessoas vão cometer suicídio.

O que leva uma pessoa a tirar a própria vida? De acordo com a pesquisadora, Iris Letícia Lage, busca-se um significado, um motivo o qual torna essa existência insuportável.

Recentemente, o humorista do grupo Hermes e Renato, Fausto Fanti, foi encontrado morto com um cinto no pescoço. No boletim de ocorrência, a morte foi tratada inicialmente como suicídio. O investigador disse que o comediante estava se separando da mulher e tinha uma filha de oito anos.

Não existe uma causa única que leve ao suicídio. A maioria dos autores veem como construções ao longo da vida do sujeito, que o levam a tal, tornando o viver mais sacrificante que o morrer. Em geral, o que é chamado de “causa”, ocorre em culminância com uma série de outros fatores que vão se acumulando, como fatores familiares, sociais, biológicos, psicológicos, etc. Trata-se de um ato não apenas individual, mas também social, pois a mesma relação que há desse sujeito com sua família, também há com a sociedade em que vive.

A morte não é solitária para a grande maioria... É solidária.

Carpe diem, mesmo que seja na Sociedade dos Poetas Mortos!