por Roney Moraes*
Muitos ainda insistem em não reconhecer o trabalho sério
de algumas Comunidades Terapêuticas (CT's) para tratamento de dependentes
químicos. É, sem dúvida, um erro grave de leigos (e alguns profissionais da
saúde) generalizar a atuação das entidades.
O anúncio de que o Centro de Atenção Psicossocial -
Álcool e outras Drogas (Caps-AD) de Cachoeiro de Itapemirim vai encaminhar
pacientes para comunidades terapêuticas ligadas ao programa da Rede Abraço do
Governo do Estado do Espírito Santo é para ser comemorado como avanço e não
retrocesso como insistem alguns que se dizem “especialistas” no assunto. Está
na hora de pensar nas famílias e usuários que precisam de ajuda e não insistir
na ignorância.
Antes, quem mora no interior do estado e buscava amparo nos
espaços, que auxiliam na recuperação da dependência, precisava recorrer ao
Centro de Acolhimento na região metropolitana. De lá ainda eram encaminhados
para unidades credenciadas e que atendem todos os requisitos de acordo com os
editais governamentais e as leis que regem a atuação das unidades comunitárias.
Hoje é diferente. Entende-se que a equipe do Caps-AD tem condições e capacidade
para isso, basta boa vontade.
Se, por um lado, o início de um diálogo representa um
passo à frente, de outro, práticas e preconceitos antigos insistem em
comprometer a construção de uma rede eficaz de assistência biopsicossocial para
usuários crônicos e seus familiares, ao contrário do que vem acontecendo até o
momento.
A crítica às CT’s parte do pressuposto de que a
Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (SENAD) promove editais que
destina apenas apoio financeiro a projetos de acolhimento para usuários de
crack, álcool e outras drogas em CT’s. Uma verdadeira falta de conhecimento
sobre o assunto, pois, para se ter o apoio, adequações são exigidas e cada vez
mais médicos, psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e outros
profissionais com nível superior fazem parte da equipe multidisciplinar destas
residências terapêuticas.
As comunidades terapêuticas já fazem parte da Rede
Substitutiva de Atenção à Saúde Mental de caráter transitório, bem como a
ampliação do número de CAPS-AD III e leitos em Hospitais Gerais, dentre outros.
Temos sim que aumentar as opções para a subjetividade da demanda da dependência
e não restringi-la a um único sistema de serviço público que, muitas vezes, não
é adequado para determinada abordagem de tratamento.
Elas, há décadas, atuam e obtém resultados infinitamente
superiores aos números apresentados pelos programas paliativos recém nascidos
de discursos e hipóteses que, na prática, não possuem eficácia.
Por fim, política pública de saúde mental é um processo
complexo, composto de participantes, instituições e forças de diferentes
origens que acontece em diversos territórios. É um conjunto de práticas,
saberes, valores culturais e sociais, e é no cotidiano das instituições, dos
serviços e das relações interpessoais que o processo da política avança,
passando por tensões, conflitos e desafios. Aqui não poderia ser diferente.
*Psicanalista membro da equipe Técnica da
Associação de Apoio Terapêutico Reviver (AATR), presidente da Associação
Psicanalítica do Estado do Espírito Santo (Apees) e discente do curso de
Psicologia da Unes.
roneyamoraes@gmail.com